Tiago Guillul
“V”
Flor Caveira / Mbari
4 / 5
Passaram dois anos sobre a edição do álbum que, longe de ser o primeiro na sua discografia (IV era, como o título sugere, o quarto), fazia finalmente de Tiago Guillul uma figura incontornável no panorama da nova música portuguesa. Dois anos depois o cenário que acolhe o sucessor é claramente outro. A Flor Caveira não é mais uma novidade, mas uma certeza, da editora tendo emergido uma série de carreiras que hoje militam entre o que de mais interessante acontece nos caminhos do pop/rock (e periferias) em Portugal. Da mesma forma como toda esta música ganhou protagonismo na vivência do Portugal musical, a identidade crente (partilhada por parte significativa destes músicos) foi aparentemente desaparecendo aos poucos da linha da frente da curiosidade de quem os abordava. Mas Tiago Guillul faz questão de não esquecer o homem que é na música que faz. E V é um disco que, se musicalmente procura atingir caminhos nunca antes visitados desta forma, nas ideias e relação com a sua identidade, mantém-se fiel a quem não deixou de ser. Na música, V é um espaço de vibrante entusiasmo pela descoberta, não apenas do poder da memória (que pode ser um estímulo se, como aqui, comunica com o presente em vez de se esgotar naquele tão estafado lusitanismo “ai no meu tempo é que era”…) como da vontade em explorar as potencialidades do trabalho com um outro estúdio e uma outro patamar na demanda de uma nova definição final das formas. As canções respiram luminisodade, África, melodismo irresistível… Convocam ecos de reconhecidas heranças da melhor pop à la portuguesa, de Variações aos GNR (dos oitentas), inclusivamente com Rui Reininho em brilhante participação em Nabucodonosor. Nas ideias, V é, sem espaço para equívocos, um disco… de Tiago Guillul. Concordando ou não com a sua forma de estar no mundo e de o comentar, o certo é que tudo aqui é coerente, seja quando se aborda o mundo político (como em Canção para o Doutor Soares) ou quando se reflecte sobre as histórias das escrituras e os caminhos da fé. No fim, Tiago Guillul apresenta em V um dos melhores discos do “pópe roque” português do pós-milénio.