Rufus Wainwright
“All Days Are Nights – Songs For Lulu”
Universal Music
4 / 5
Após cinco álbuns de canções pop para banda (e por vezes orquestra), eis que Rufus Wainwright se mostra sem quaisquer elementos de cenografia. Isto é, a solo, apenas com a sua voz e a companhia de um piano. All Days Are Nights: Songs For Lulu (esta Lulu devendo algo à herança da que Berg celebrou numa das grandes óperas do século XX) é o menos pop dos discos de Rufus Wainwright. A escrita para piano ora segue genéticas clássicas da canção popular (incluindo o teatro musical), ora contempla por vezes a assimilação de ecos dos impressionistas do início do século XX. O alinhamento junta três dos sonetos que musicou para Robert Wilson (Sonet 43 é mesmo um “acontecimento” maior na escrita do músico), uma ária da sua ópera Prima Donna e várias canções inéditas, nestas retratando o mundo à sua volta com uma intensidade confessional ainda mais evidente que em discos anteriores (a morte da mãe e o tempo que a antecedeu paira sobre o disco). Rufus Wainwright já por várias vezes habitara um palco sem mais que apenas a companhia de um piano. Em disco a experiência resulta agora em mais um episódio feliz numa carreira discográfica que ainda sabe surpreender.
PS. Este texto é uma versão editada de uma crítica originalmente publicada na revista NS