segunda-feira, maio 31, 2010

Novas edições:
Brendan Perry, Ark

Brendan Perry
“Ark”

Cooking Vinyl / Edel
3 / 5

Depois da primeira separação dos Dead Can Dance, Brendan Perry editou um primeiro álbum a solo. Agora, onze anos depois, e com um reencontro pelo meio com Lisa Gerrard (numa digressão mundial da qual resultaram gravações ao vivo com o grupo que o revelara nos oitentas), eis que edita finalmente um segundo álbum em seu nome. Neste período Brendan Perry pode não ter conhecido a agenda editorial nem a exposição que a sua velha parceira nos Dead Can Dance mereceu, mas na verdade nunca deixou de trabalhar com música, tendo concentrado parte do seu tempo na exploração dos ritmos, chegando mesmo a organizar vários workshops sobre tradições africanas e afroc-cubanas. Ark, o disco que o devolve à agenda dos novos lançamentos salta contudo sobre esta etapa recente na sua vida profissional, foge aos caminhos ensaiados em Eye Of The Hunter (o disco a solo, de 1999) e reencontra a identidade que ajudou a talhar nos Dead Can Dance. A voz, que desde logo serve uma ponte directa com memórias do velho grupo, não é contudo a única ligação evidente com o que toma como herança, propondo um alinhamento de canções feitas de uma melancolia cuidadosamente encenada para teclas ambientais e cordas, no departamento da arquitectura dos ritmos encontrando contudo mais afinidades com a escola trip hop que com a multidão de referências que explorara quer nos Dead Can Dance quer nos seus workshops. Ark está longe do que em tempos escutámos em Spleen and Ideal (1986), The Serpent’s Egg (1988) ou Aion (1990), mas ao menos não tropeça nas rasteiras new age em que entretanto mergulhou a obra da sua antiga parceira.