segunda-feira, maio 31, 2010

Em conversa: John Grant (1)

Iniciamos hoje a publicação de uma entrevista com John Grant, sobre a edição de Queen Of Denmark, o seu primeiro disco a solo e que serviu de base ao artigo ‘A canção como forma de lidar com uma vida difícil’, publicada na edição de 22 de Maio do DN Gente.

Durante anos gravou com os The Czars, mas muitos dos discos passaram a leste das atenções. Sentia-se frustrado com a falta de reconhecimento?
Sim foi frustrante. E levou-me a querer desistir da música, e a pensar que a banda era um fracasso por minha culpa , porque não era suficientemente bom... Pensei que deveria fazer outras coisa. Regressar aos restaurantes, a servir à mesa... Voltei às aulas, para retomar estudos que havia deixado inacabados... Mudei-me para Nova Iorque por algum tempo... Mas na realidade a música é algo que acabamos nunca pode poder deixar totalmente. Continua a remover algo dentro da cabeça.

Essa falta auto-estima tem alguma relação com a educação que teve?
Parte dessa falta de auto-estima pode ter a ver com a forma como fui educado. Fui desenvolvendo esta idea que, se temos um certo orgulho em nós mesmos e naquilo que fazemos isso era, na verdade, uma expressão de vaidade. Ou seja, uma coisa má! E por isso nunca aprendi o que era ter auto-confiança. E auto-confiança não é o mesmo que arrogância. Mas não sabia ver as diferenças. E se sentia que algo era bom, então qualquer coisa má ia acontecer depois. Levei muito tempo a aprender a lidar com isso.

O presente reconhecimento de Queen of Denmark (que por exemplo somou cinco em cinco na revista Mojo) sugere, finalmente, uma ideia de realização?
Completamente. De certa maneira, havia algo em mim que me fazia saber que seria capaz de fazer este disco. Mas a verdade é que levei muito tempo a lá chegar. Custou-me encontrar o caminho... Era muito doloroso ser honesto sobre o que estava a passar. Estava a lutar com uma depressão há 20 anos. E há minha volta havia sempre gente a dizer que havia pessoas a passar por bem pior que eu... Mandava-os dar uma volta! Tentava ultrapassar, mas não era fácil. Porque as coisas pelas quais estava a passar eram mesmo reais. O reconhecimento deixa-me feliz. Quando estava a fazer o disco sentia que, finalmente, estava a fazer o álbum que queria fazer. Quando acabei o disco estava orgulhoso. E foi a primeira vez que disse a mim mesmo que, independentemente do que as pessoas dissesssem, eu sabia que tinha feito o que queria fazer. E ao ter esta atenção faz-me sentir muito bem. É bom!
(continua)