Depois de Beethoven, Mahler e Tchaikovsky (não esquecendo, pelo meio, a celebração da música contemporânea latino-americana em Fiesta), o maestro Gustavo Dudamel apresenta um novo disco com a Orquestra Sinónica Juvenil Simón Bolívar. Uma verdadeira celebração do ritmo, explorando a fundo o entusiasmo conhecido dos músicos da orquestra, o Rite (assim se apresenta o disco) junta A Sagração da Primavera de Stravinsky a La Noche de los Mayas, do mexicano Revueltas. Ambas as obras surgem em gravações captadas ao vivo, em Caracas (Venezuela), em Fevereiro deste ano.
A escolha das obras, convenhamos, faz todo o sentido no quadro da orquestra e maestro em questão. Celebração de vida com a Primavera por cenário e mesmo objecto, a obra de Igor Stravinsky (1882-1971) é hoje reconhecida uma das peças fundamentais da música do século XX e foi logo à altura da estreia sentida como a expressão de algo novo. Dudamel, que recorda experiências pessoais com esta obra de Stravinsky – seja num vídeo antigo de Bernstein ou num trabalho marcante com Simon Rattle, há já alguns anos, era ainda violinista e maestro assistente – reconhece que a noção de “nova era” que esta música revelou em 1913 é algo importante para os mais jovens (músicos ou espectadores). Na entrevista que acompanha o booklet, curiosamente, ressalva o facto de aqui se estar a viver sensações de Primavera através da interpretação de músicos de uma orquestra da Venezuela: “É claro que não temos Primavera na Venezuela, apenas verão”, graceja. Mais evidente, contudo, é a relação dos músicos com o ritmo (característica central desta obra). E como uma vez mais Dudamel frisa esta orquestra “tem o ritmo no seu sangue”… O acoplar desta obra de Stravinsky a La Noche de los Mayas de Silvestre Revueltas (1899-1940) não é fruto do acaso. Não só o compositor mexicano é por vezes descrito como o Stravinsky da América Latina, como esta sua obra convoca ideias de “rituais, dança e actos sacrificiais”, como descreve o maestro.