
Para o cineasta inglês Paul Greengrass, a invasão do Iraque, em 2003, começou por surgir como uma opção correcta, no sentido de desmantelar a ditadura de Saddam Hussein e ajudar a construir um regime democrático. O certo é que o evoluir da situação, a instalação de um clima de violência e instabilidade e, em particular, o reconhecimento de que não existiam as célebres ADM/WMD (armas de destruição maciça) levaram-no a repensar a sua visão, discutindo, sobretudo, alguns modos de actuação do exército americano. O filme Green Zone — entre nós lançado com o título Combate pela Verdade — é uma consequência directa desse processo pessoal, ao mesmo tempo político e moral.
O empenho de Greengrass em abordar a situação conduziu-o a um minucioso trabalho de investigação, nomeadamente através dos relatos e análises de alguns jornalistas americanos que estiveram no terreno, primeiro testemunhando a queda de Saddam, depois dando conta da construção de um perímetro de segurança em Bagdad, a célebre “Green Zone” (Zona Verde) onde os EUA instalaram as chefias das suas estruturas políticas e militares. Na sequência de tal trabalho, Greengrass veio mesmo a adquirir os direitos de adaptação cinematográfica do livro A Vida Imperial na Cidade Esmeralda, da autoria de Rajiv Chandrasekaran, jornalista do Washington Post (a tradução portuguesa, com chancela das Edições 70, acaba também de chegar ao mercado).

Matt Damon surge, assim, numa personagem que funciona como um pretexto para colocar as perguntas mais incómodas. Ele é Roy Miller, líder de um batalhão cuja missão consiste, precisamente, em descobrir e desmantelar os locais onde estariam escondidas as ADM. O certo é que as informações dos serviços secretos conduzem-no a situações no mínimo bizarras, incluindo a invasão de uma fábrica de... loiças sanitárias. Daí a dimensão clássica de filme de guerra que encontramos em Combate pela Verdade: mais do que uma visão global dos acontecimentos, trata-se de retratar as acções específicas dos soldados, no terreno, dando especial ênfase ao modo como esses soldados avaliam a sua própria missão.