Por vezes, há filmes prejudicados pela sua própria imagem de marca. Por exemplo, Combate pela Verdade/Green Zone: um retrato crítico de uma guerra, não um banal "filme-de-acção" — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Abril), com o título 'A invasão do Iraque revista num "thriller" com Matt Damon'.
Para o cineasta inglês Paul Greengrass, a invasão do Iraque, em 2003, começou por surgir como uma opção correcta, no sentido de desmantelar a ditadura de Saddam Hussein e ajudar a construir um regime democrático. O certo é que o evoluir da situação, a instalação de um clima de violência e instabilidade e, em particular, o reconhecimento de que não existiam as célebres ADM/WMD (armas de destruição maciça) levaram-no a repensar a sua visão, discutindo, sobretudo, alguns modos de actuação do exército americano. O filme Green Zone — entre nós lançado com o título Combate pela Verdade — é uma consequência directa desse processo pessoal, ao mesmo tempo político e moral.
O empenho de Greengrass em abordar a situação conduziu-o a um minucioso trabalho de investigação, nomeadamente através dos relatos e análises de alguns jornalistas americanos que estiveram no terreno, primeiro testemunhando a queda de Saddam, depois dando conta da construção de um perímetro de segurança em Bagdad, a célebre “Green Zone” (Zona Verde) onde os EUA instalaram as chefias das suas estruturas políticas e militares. Na sequência de tal trabalho, Greengrass veio mesmo a adquirir os direitos de adaptação cinematográfica do livro A Vida Imperial na Cidade Esmeralda, da autoria de Rajiv Chandrasekaran, jornalista do Washington Post (a tradução portuguesa, com chancela das Edições 70, acaba também de chegar ao mercado).
De início, tratava-se de adaptar o livro de Chandrasekaran quase como um prolongamento jornalístico. Seria um documentário crítico sobre as motivações da invasão do Iraque e, em particular, dando conta do modo como os soldados foram levados a procurar algo que, de facto, não estava lá. O certo é que os resultados corriam o risco de encontrar uma difusão mais ou menos restrita e “especializada”. E, para Greengrass, era importante chegar ao maior número possível de espectadores. Daí a decisão de avançar para um objecto com outra escala de produção: não uma “adaptação”, mas um filme “inspirado” no livro, um thriller de grande produção sobre a acção das tropas americanas em Bagdad. Para tal, o realizador recorreu aos serviços do argumentista Brian Helgeland (que já escrevera, por exemplo, Mystic River, em 2003, para Clint Eastwood), contando com Matt Damon no papel principal, retomando a colaboração com o actor, depois de o ter dirigido nas aventuras do agente secreto Jason Bourne, em Supremacia (2004) e Ultimato (2007).
Matt Damon surge, assim, numa personagem que funciona como um pretexto para colocar as perguntas mais incómodas. Ele é Roy Miller, líder de um batalhão cuja missão consiste, precisamente, em descobrir e desmantelar os locais onde estariam escondidas as ADM. O certo é que as informações dos serviços secretos conduzem-no a situações no mínimo bizarras, incluindo a invasão de uma fábrica de... loiças sanitárias. Daí a dimensão clássica de filme de guerra que encontramos em Combate pela Verdade: mais do que uma visão global dos acontecimentos, trata-se de retratar as acções específicas dos soldados, no terreno, dando especial ênfase ao modo como esses soldados avaliam a sua própria missão.
Para o cineasta inglês Paul Greengrass, a invasão do Iraque, em 2003, começou por surgir como uma opção correcta, no sentido de desmantelar a ditadura de Saddam Hussein e ajudar a construir um regime democrático. O certo é que o evoluir da situação, a instalação de um clima de violência e instabilidade e, em particular, o reconhecimento de que não existiam as célebres ADM/WMD (armas de destruição maciça) levaram-no a repensar a sua visão, discutindo, sobretudo, alguns modos de actuação do exército americano. O filme Green Zone — entre nós lançado com o título Combate pela Verdade — é uma consequência directa desse processo pessoal, ao mesmo tempo político e moral.
O empenho de Greengrass em abordar a situação conduziu-o a um minucioso trabalho de investigação, nomeadamente através dos relatos e análises de alguns jornalistas americanos que estiveram no terreno, primeiro testemunhando a queda de Saddam, depois dando conta da construção de um perímetro de segurança em Bagdad, a célebre “Green Zone” (Zona Verde) onde os EUA instalaram as chefias das suas estruturas políticas e militares. Na sequência de tal trabalho, Greengrass veio mesmo a adquirir os direitos de adaptação cinematográfica do livro A Vida Imperial na Cidade Esmeralda, da autoria de Rajiv Chandrasekaran, jornalista do Washington Post (a tradução portuguesa, com chancela das Edições 70, acaba também de chegar ao mercado).
De início, tratava-se de adaptar o livro de Chandrasekaran quase como um prolongamento jornalístico. Seria um documentário crítico sobre as motivações da invasão do Iraque e, em particular, dando conta do modo como os soldados foram levados a procurar algo que, de facto, não estava lá. O certo é que os resultados corriam o risco de encontrar uma difusão mais ou menos restrita e “especializada”. E, para Greengrass, era importante chegar ao maior número possível de espectadores. Daí a decisão de avançar para um objecto com outra escala de produção: não uma “adaptação”, mas um filme “inspirado” no livro, um thriller de grande produção sobre a acção das tropas americanas em Bagdad. Para tal, o realizador recorreu aos serviços do argumentista Brian Helgeland (que já escrevera, por exemplo, Mystic River, em 2003, para Clint Eastwood), contando com Matt Damon no papel principal, retomando a colaboração com o actor, depois de o ter dirigido nas aventuras do agente secreto Jason Bourne, em Supremacia (2004) e Ultimato (2007).
Matt Damon surge, assim, numa personagem que funciona como um pretexto para colocar as perguntas mais incómodas. Ele é Roy Miller, líder de um batalhão cuja missão consiste, precisamente, em descobrir e desmantelar os locais onde estariam escondidas as ADM. O certo é que as informações dos serviços secretos conduzem-no a situações no mínimo bizarras, incluindo a invasão de uma fábrica de... loiças sanitárias. Daí a dimensão clássica de filme de guerra que encontramos em Combate pela Verdade: mais do que uma visão global dos acontecimentos, trata-se de retratar as acções específicas dos soldados, no terreno, dando especial ênfase ao modo como esses soldados avaliam a sua própria missão.