Editado há poucas semanas pela Delphian, o disco acrescenta outras obras a The Church Closest To The Sea. Uma delas, igualmente tomando o contrabaixo por força motriz, é Epilogue from Wonderlawn, nascido directamente de música que Bryars compôs em meados dos anos 90 para a coreógrafa Laurie Booth. A voz é, por seu lado, a alma central a um outro conjunto de composições que se “arrumam” sob o título comum Eight Irish Madigals. O ponto de partida são aqui as traduções, em prosa, pelo poeta e dramaturgo irlandês John Millington Synge, de sonetos de Petrarca. Os textos conduziram Bryars num caminho que o levou ao reencontro com a tradição do madrigal renascentista, citando inclusivamente Carlo Gesualdo (1566-1613) como referência a partir da qual o compositor britânico procurou desenvolver a sua linguagem.
domingo, abril 18, 2010
Ecos de melancolia (perto do mar)
Um novo disco com a gravação de três obras do compositor britânico Gavin Bryars (n. 1943) coloca em primeiro plano a sua relação com o instrumento que tomou como o “seu”: o contrabaixo. É uma presença determinante em muita da escrita para orquestra, mas poucas vezes conhece um protagonismo (ou mesmo instantes como solista), o universo do jazz tendo-lhe na verdade concedido uma mais marcante visibilidade. Duas das obras neste novo disco vincam a relação próxima e atenta do compositor com o contrabaixo. Com Rick Standley como contrabaixista, acompanhando o ensemble escocês Mr McFall’s Chamber, The Church Closest To The Sea é aqui a peça que se destaca. De um encontro entre Bryars e o contrabaixista deste grupo nasceu a ideia de uma colaboração que ganhou forma numa música que expressa a melancolia e tons enevoados característicos da paisagem costeira escocesa. A peça reflecte um encontro entre vários caminhos, discretos ecos da relação do contrabaixo com jazz surgindo numa música onde as cordas e um piano desenham, lentamente, sombras que nos colocam na paisagem emocional (e geográfica) que foi cenário do espaço onde a ideia musical ganhou forma…