domingo, março 14, 2010

Uma ópera em aberto

Foi uma das primeiras óperas de Philip Glass, mas só agora conhece edição em disco. Composta em 1980 (o mesmo ano em que era estreada a segunda ópera-retrato Satyagraha), A Madrigal Opera foi a primeira ópera de câmara de Glass e uma das que mais proximidade revela para com os fundamentos da linguagem minimalista que havia conduzido a sua música até então. Distante do lirismo que tomaria protagonismo em Akhnathen pouco tempo depois (e que começara já a aflorar em Satyaagraha) esta é uma ópera de forma aberta, na verdade não implicando uma narrativa em concreto.

Escrita para seis vozes, violino e viola, a ópera é, como descreve Richard Guerin no booklet, uma obra “abstracta de teatro musical desenhada para ser completada por vários futuros” encenadores e directores artísticos. Como explicou o próprio compositor no livro Music By Philip Glass, a ideia central por detrás da concepção de A Madrigal Opera surge um conceito atento à relação da dança com a música, cada coreógrafo adaptando as obras que usam como “banda sonora” para as suas necessidades dramáticas. Assim sendo, a ópera pode convocar um texto (e consequentemente um autor) a cada nova produção que eventualmente seja montada. A versão em disco, que acaba de ser lançada pela Orange Mountain Music (a etiqueta do próprio Philip Glass) é assim o retrato áudio de uma produção recente, levada a cena em Helsínquia, na Finlândia, em 2002, com a Opera Skala, sob direcção de Jari Hiekkapelto.