domingo, março 21, 2010

Tchaikovsky, segundo Gergiev

Sob direcção de Valery Gergiev, a orquestra do Teatro Mariinsky (que actuou em Lisboa há cerca de uma no, no Coliseu dos Recreios) tem vindo a desenvolver um plano de edições em nome próprio, juntando-se a outras orquestras que, como a de Chicago ou a London Symphony Orchestra, respondem hoje, discograficamente falando, através de edições de autor em etiquetas próprias. O mais recente título editado pela parceria Gergiev/Mariinsky junta uma série de obras de Tchaikovsky, encontrando como denominador comum o facto de terem nascido, todas elas, de encomendas ao compositor para estreias em datas e locais específicos.

Com destaque no alinhamento (e na própria capa, cujo grafismo explora a forma da boca de um canhão), a Abertura 1812 é a mais recente das obras aqui recordadas, tendo nascido em 1880 pensada para a inauguração de uma nova catedral em Moscovo. Evocando a derrota de Napoleão na campanha da Rússia, em 1812, é uma peça com evidente programa narrativo e claro fulgor patriota. A música integra citações várias, da Marselhesa a cânticos russos, usando ainda a própria orquestra em favor de uma ideia cénica no clímax da evocação deste episódio de guerra na história russa. As demais obras aqui registadas sublinham a relação de Tchaikovsky com a sua identidade russa (e também uma admiração maior pelo czar Alexandre III, que por sua vez tinha em si o seu compoistor preferido). Entre as obras que Gergiev seleccionou para este disco conta-se, de resto, um hino criado para assinalar o noivado do futuro czar, em 1866 e a marcha da sua coroação, de 1883. O grande momento deste conjunto de gravações revela-se contudo na grandiosa Cantata Moscovo (também de 1883), que sublinha as qualidades da escrita vocal, com acompanhamento por orquestra, de Tchaikovsky, aqui numa soberba interpretação.