De onde vem a "pulsão" adulta de Tim Burton, transformando a sua Alice numa jovem adolescente confrontada tanto com as atribulações do sonho como com os desígnios da ordem social e familiar da sua época? Por certo da ambivalência das suas fábulas (recordemos esse filme genial que é Eduardo Mãos de Tesoura), sempre embrenhadas com as instâncias dos poderes (familiar, político, etc.). Mas também da origem de tudo: a Alice de Lewis Carroll e, muito especificamente, a Alice Liddell que serviu de inspiração para a sua heroína. As fotografias de Lidell por Carroll são a prova real desse desejo insensato, porque radical e transparente, de ver a criança, não como a ausência feliz do adulto, mas sim o seu simulacro assombrado. Assombrado por quê? Pela história que, ao crescermos, fazemos. Pelas histórias que contamos.