terça-feira, março 02, 2010
Pelos livros de Christopher Isherwood (2)
Muita da obra de ficção de Christopher Isherwood é essencialmente de génese auto-biográfica, o real cruzando-se com personagens e lugares a ele ligadas por memórias, muitas delas vividas na primeira pessoa. Um dos primeiros exemplos dessa relação próxima com as figuras sobre as quais escreve surge logo em The Memorial (que teve já tradução para português como O Memorial, pela Livros do Brasil). O livro, originalmente publicado em 1932 leva-nos a Inglaterra no período imediatamente posterior ao final da I Guerra Mundial. O livro foca o clima de decadência de uma ordem familiar antiga, tomando como ponto de vista o olhar de um jovem estudante de Cambridge que, de por um lado admira a forma como o pai conduzira uma vida de dedicação e sacrifício antes de morrer na guerra, por outro não deixa de reflectir sobre a demanda tomada, por sua vez, por um grande amigo dele, que partira para Berlim em busca de outra vida e outra liberdade. O conflito entre mãe e filho, que ecoam traços da sua própria experiência, são outra das marcas centrais. Escrito quatro anos depois da sua estreia, em All The Conspirators, The Memorial lançou um caminho que, seguido por muitos outros títulos posteriores, fez de si mesmo uma presença central em grande parte da sua obra.