Estado de Guerra e Avatar são, em boa verdade, produtos de uma mesma conjuntura industrial — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 de Fevereiro), com o título 'Uma vitória a duas dimensões'.
Enganei-me. Embora considerando Estado de Guerra um fulgurante objecto de cinema, sempre pensei que a Academia de Hollywood consagrasse Avatar como melhor filme, em nome de um princípio básico, mas muito estimável: o de celebrar um fenómeno capaz de contrariar as crises do consumo tradicional, contrapondo aos downloads da Internet a experiência insubstituível das salas.
Nada disso implica a imagem piedosa de um frágil David (independente) contra um qualquer Golias (os estúdios). Para além da diferença de escala (o orçamento de Avatar dava, pelo menos, para vinte produções como Estado de Guerra), ambos nascem de uma mesma conjuntura industrial de recursos altamente sofisticados. A questão é outra: as escolhas da academia são também um gesto de distanciamento face à avalancha das três dimensões e à acelerada reconversão das salas de todo o mundo.
Eis um dado financeiro e cultural que Hollywood, mas também os distribuidores e exibidores, têm interesse em não contornar, evitando confundir o 3D com a milagrosa “salvação” dos mercados. Tanto mais que, no mero plano do investimento, podem fazer-se dezenas de filmes como Estado de Guerra durante um ano, sendo duvidoso que um novo Avatar possa surgir antes de dez anos.
Enganei-me. Embora considerando Estado de Guerra um fulgurante objecto de cinema, sempre pensei que a Academia de Hollywood consagrasse Avatar como melhor filme, em nome de um princípio básico, mas muito estimável: o de celebrar um fenómeno capaz de contrariar as crises do consumo tradicional, contrapondo aos downloads da Internet a experiência insubstituível das salas.
Nada disso implica a imagem piedosa de um frágil David (independente) contra um qualquer Golias (os estúdios). Para além da diferença de escala (o orçamento de Avatar dava, pelo menos, para vinte produções como Estado de Guerra), ambos nascem de uma mesma conjuntura industrial de recursos altamente sofisticados. A questão é outra: as escolhas da academia são também um gesto de distanciamento face à avalancha das três dimensões e à acelerada reconversão das salas de todo o mundo.
Eis um dado financeiro e cultural que Hollywood, mas também os distribuidores e exibidores, têm interesse em não contornar, evitando confundir o 3D com a milagrosa “salvação” dos mercados. Tanto mais que, no mero plano do investimento, podem fazer-se dezenas de filmes como Estado de Guerra durante um ano, sendo duvidoso que um novo Avatar possa surgir antes de dez anos.