Alive Day Memories é um notável documentário sobre alguns protagonistas da guerra do Iraque — passou na televisão em horário ultra-discreto — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 de Março), com o título 'O teatro das entrevistas'.
Alive Day Memories: Home from Iraq (2007) é um documentário de Jon Alpert e Ellen Goosenberg Kent sobre os soldados americanos que regressaram da guerra no Iraque com traumatismos vários, tanto de natureza física como psicológica. Com o título O Dia da Sobrevivência: O Regresso a Casa do Iraque, passou na RTP2 (na noite de 26 para 27 de Fevereiro).
É uma pena que um objecto deste teor, enraizado numa concepção muito séria do que seja a intervenção pública da televisão (com chancela da HBO), surja tão secundarizado no mapa das programações. Gostaria de não favorecer um discurso demagógico que acabe por desvalorizar o mais importante (a saber: o simples facto de o documentário ter sido adquirido e apresentado). Em todo o caso, estamos apenas a ser objectivos se lembrarmos que José Carlos Malato ou Fernando Mendes têm mais visibilidade que um produto deste género. E face a isso, não questionando o profissionalismo seja de quem for, faz sentido formular uma pergunta rudimentar, dirigida a qualquer filosofia de programação: porquê?
A importância de Alive Day Memories é tanto maior quanto as linguagens televisivas não são coisas transparentes, muito menos aplicáveis sem consequências concretas na interpretação dos factos e na percepção dos espectadores. Dito de outro modo: deparamos com um dispositivo de entrevistas (conduzidas pelo actor James Gandolfini, também produtor executivo do projecto) que não se esgota no automatismo de uma câmara em frente a uma pessoa. O documentário tem o cuidado de mostrar o espaço do estúdio em que tudo acontece, situando claramente aqueles que dialogam e também a posição e movimento das câmaras. Entenda-se: não por causa desse novo-riquismo estético que se compraz na exibição gratuita da técnica; antes porque importa assumir a entrevista como um espaço teatral que, no limite, pode colocar em cena as componentes mais secretas da identidade de cada um. É o exacto contrário da pornografia do Big Brother: dentro da televisão e em defesa da nobreza da televisão.
Alive Day Memories: Home from Iraq (2007) é um documentário de Jon Alpert e Ellen Goosenberg Kent sobre os soldados americanos que regressaram da guerra no Iraque com traumatismos vários, tanto de natureza física como psicológica. Com o título O Dia da Sobrevivência: O Regresso a Casa do Iraque, passou na RTP2 (na noite de 26 para 27 de Fevereiro).
É uma pena que um objecto deste teor, enraizado numa concepção muito séria do que seja a intervenção pública da televisão (com chancela da HBO), surja tão secundarizado no mapa das programações. Gostaria de não favorecer um discurso demagógico que acabe por desvalorizar o mais importante (a saber: o simples facto de o documentário ter sido adquirido e apresentado). Em todo o caso, estamos apenas a ser objectivos se lembrarmos que José Carlos Malato ou Fernando Mendes têm mais visibilidade que um produto deste género. E face a isso, não questionando o profissionalismo seja de quem for, faz sentido formular uma pergunta rudimentar, dirigida a qualquer filosofia de programação: porquê?
A importância de Alive Day Memories é tanto maior quanto as linguagens televisivas não são coisas transparentes, muito menos aplicáveis sem consequências concretas na interpretação dos factos e na percepção dos espectadores. Dito de outro modo: deparamos com um dispositivo de entrevistas (conduzidas pelo actor James Gandolfini, também produtor executivo do projecto) que não se esgota no automatismo de uma câmara em frente a uma pessoa. O documentário tem o cuidado de mostrar o espaço do estúdio em que tudo acontece, situando claramente aqueles que dialogam e também a posição e movimento das câmaras. Entenda-se: não por causa desse novo-riquismo estético que se compraz na exibição gratuita da técnica; antes porque importa assumir a entrevista como um espaço teatral que, no limite, pode colocar em cena as componentes mais secretas da identidade de cada um. É o exacto contrário da pornografia do Big Brother: dentro da televisão e em defesa da nobreza da televisão.