quarta-feira, março 10, 2010

Fim de tarde entre Schumann e Martinú

Esta segunda-feira, em fim de tarde de chuva, clima ameno no Auditório Dois com alguns solistas da Orquestra Gulbenkian num programa entre obras de Robert Schumann e Bohuslav Martinú (na imagem). A música do primeiro abriu e fechou o concerto, em peças para piano e cordas (António Rosado ao piano), evocando um tempo de busca de uma nova noção de liberdade na definição das ideias musicais, reabrindo vias de comunicação com um espírito marcante na definição das estéticas do romantismo. Os momentos mais surpreendentes da tarde chegaram contudo ao som da música do compositor checo, nomeadamente um sexteto para cordas de 1932 e três espantosas reflexões sobre a tradição (e as formas) do madrigal, estreadas em 1947, num período em que, em fuga da invasão alemã, o compositor optara por nova vida nos Estados Unidos. Os Três Madrigais, para violino e viola H. 313 levaram a uma tarde lisboeta de 2010 uma janela que, desenhada em finais dos anos 40, encontrou em ecos da música barroca e renascentista, novos motivos para pensar o presente. Sem tecnologia de ficção científica, o um certo percurso no tempo, de facto, ali aconteceu.