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O modo como o concerto foi estruturado soube privilegiar a busca de afinidades entre a música de duas épocas distintas que, distantes no tempo, afinal partilham interesses e formas. O segmentar da Missa Syllabica de Pärt (na foto) em fragmentos, entrecruzados com peças de tempos mais remotos, vincou, de forma assombrosa, as genéticas que a definiram… De resto, nas obras apresentadas de Arvo Pärt notam-se, a partir de um interesse reflectido sobre a música medieval (fundamental no processo de reinvenção da sua linguagem como compositor em finais dos anos 70), sinais de caminhos que buscaram novos horizontes (discretamente aflorando em apenas dados momentos algumas marcas de assimilação de ideias escutadas entre os minimalistas, mas sem a intensidade estrutural que Pärt levou a composições como Alina ou Fratres). Além da ideia que definia o programa, a brilhante prestação de ambos os grupos que partilharam o palco fez desta noite um dos momentos maiores da presente temporada.