Estranhamente, os Jogos Olímpicos de Inverno não merecem os favores mediáticos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 de Fevereiro), com o título 'Isto não é um penalty'.
O nosso mundo tele-futebolístico continua a ser pouco dado a admirar a beleza de outros desportos. Não o digo por qualquer resistência às delícias do futebol. Bem pelo contrário, tanto mais que os campeonatos nacionais e as competições europeias estão ao rubro (não vos pareceu espantosa a velocidade a que foi jogado o Porto-Arsenal, a ponto de parecer um jogo da... Premier League?) O certo é que nem mesmo os Jogos Olímpicos de Inverno, a decorrer na cidade canadiana de Vancouver (até dia 28), têm suscitado grande atenção. Têm tido, aliás, menos visibilidade que alguns secundaríssimos jogos das ligas portuguesas de futebol.
Registo, por isso, esta magnífica fotografia [Tony Gentile/Reuters] de uma das pistas de velocidade de Vancouver. É uma imagem de vocação simbólica. E não estou a pensar no facto de podermos olhar a curva da pista como uma variação gelada, insolitamente poética, do arco-íris... Estou a pensar, isso sim, na confluência feliz de dois ou três elementos figurativos: a mancha vermelha do atleta a emergir da neve; as silhuetas dos espectadores; enfim, a sensação de nos projectarmos num universo alternativo feito de formas e velocidades hiper-humanas. É pena que a imaginação televisiva seja um bem tão escasso: descobrir momentos como este é, por certo, mais enriquecedor do que gastar horas a especular sobre um penalty que foi bem ou mal marcado...
O nosso mundo tele-futebolístico continua a ser pouco dado a admirar a beleza de outros desportos. Não o digo por qualquer resistência às delícias do futebol. Bem pelo contrário, tanto mais que os campeonatos nacionais e as competições europeias estão ao rubro (não vos pareceu espantosa a velocidade a que foi jogado o Porto-Arsenal, a ponto de parecer um jogo da... Premier League?) O certo é que nem mesmo os Jogos Olímpicos de Inverno, a decorrer na cidade canadiana de Vancouver (até dia 28), têm suscitado grande atenção. Têm tido, aliás, menos visibilidade que alguns secundaríssimos jogos das ligas portuguesas de futebol.
Registo, por isso, esta magnífica fotografia [Tony Gentile/Reuters] de uma das pistas de velocidade de Vancouver. É uma imagem de vocação simbólica. E não estou a pensar no facto de podermos olhar a curva da pista como uma variação gelada, insolitamente poética, do arco-íris... Estou a pensar, isso sim, na confluência feliz de dois ou três elementos figurativos: a mancha vermelha do atleta a emergir da neve; as silhuetas dos espectadores; enfim, a sensação de nos projectarmos num universo alternativo feito de formas e velocidades hiper-humanas. É pena que a imaginação televisiva seja um bem tão escasso: descobrir momentos como este é, por certo, mais enriquecedor do que gastar horas a especular sobre um penalty que foi bem ou mal marcado...