domingo, fevereiro 21, 2010

Uma noite na Philarmonie


Foi o programa número 50 proposto pela Berliner Philarmoniker na temporada 2009/2010. Uma noite com a Orquestra Filarmómica de Berlim, dirigida por Simon Rattle, com a pianista Mitsuko Uchida como convidada principal. E com eles obras de Ligeti, Beethoven e Sibelius. O local, os intervenientes e a música com tudo para fazer deste um dos grandes momentos do ano. Mais ainda com o extra de representar a minha estreia na sala. Assim foi na noite de quinta-feira. Memorável.

Comecemos pelo espaço. Desenhado em finais dos anos 50, por Hans Scharoun para albergar uma orquestra que desde os bombardeamentos de 1944 não tinha casa própria, o edifício central do complexo a que os berlinenses hoje chamam Phliarmonie foi inaugurado em 1963, erigido num extremo sul do Tiergarten e próximo da então desolada zona de Potsdamer Platz (que hoje, renovada, não só é o núcleo arquitectónico mais entusiasmante de Berlim como serve de sede para a Berlinale). Dominado por um amarelo dourado no exterior, desenhado por formas que imediatamente destacam o edifício do espaço em volta, esta é uma verdadeira catedral da música.
O foyer amplo acolhe vários bares, um restaurante e uma loja de discos (com títulos que passam pelas várias etapas da história da orquestra). Pelos dois pisos de foyer correm longos bengaleiros, de acesso fácil (e rápido). Uma hora antes do concerto, pelos monitores espalhados pelo foyer escutava-se uma apresentação do que se ia escutar. A sala principal não só é um prodígio de arquitectura, como revela uma acústica absolutamente impressionante.

Podem fazer uma visita virtual ao foyer e à sala aqui.

De casa cheia, o concerto começou com San Francisco Polyphony, de György Ligeti, revelando uma sucessão de texturas que, sobretudo para quem experimentava aquela sala pela primeira vez, acabou por traduzir as potencialidades da acústica do espaço. Seguiu-se o Concerto para Piano e Orquestra nº 4 de Beethoven, com Mitsuko Uchida (que já o gravou em disco) a revelar uma vez mais uma particular afinidade com a música do compositor, deixando também claras marcas muito pessoais da sua presença. A segunda parte do programa, novamente apenas com a orquestra em cena, apresentou uma sólida leitura da Sinfonia Nº 2 de Jean Sibelius, traduzindo uma vez mais a profunda ligação que Rattle tem vindo a desenvolver com a orquestra. A sua satisfação era evidente no final, perante uma sala em pé, numa ovação que parecia não terminar.