Apresenta-se, na sua página no Twitter, como um “escritor italiano que vive pela Europa”. E pelos seus livros passa essa relação com o espaço sempre em mudança, característico de um viajante. Nicola Lecca tinha 14 anos quando saiu da sua Sardenha natal. Passou pela Islândia, onde ficou durante um Inverno. Já esteve por algum tempo na Hungria, Suécia, Grécia, Espanha. No ano 2000 viveu uma temporada em Londres, de onde guarda sobretudo memórias dos concertos que ali assistiu por nomes como David Bowie, Jane Birkin, Andreas Scholl ou da Filarmónica de Berlim, dirigida por Simon Rattle. O seu gosto musical, que vai de Bach aos Sigur Rós, de Pergolesi a Patrick Wolf, é de resto um frequente habitante da sua escrita. O site oficial cita Musil, Proust, Camus ou Dagerman entre os seus autores preferidos. E refere Pirandello e Buzatti como aqueles que em si estimularam o gosto pelas narrativas curtas. O seu romance de 2006 Hotel Borg, com acção cruzada entre Londres e Reikjavik, foi publicado entre nós, pela Casa Sassessti, em finais de 2009.
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Hotel Borg é um romance curto. Simples. A narrativa evolui fragmentada, alternando o foco das atenções em torno dos cinco protagonistas que acompanha até à noite do tão esperado concerto… E reflecte ao mesmo tempo sobre a relação do músico com a plateia que o aplaude. E a tomada de consciência de que, inevitavelmente, um dia os aplausos deixarão de se ouvir.