Trabalha com actores profissionais e também com não-actores. Como junta essas duas realidades num mesmo filme?
É uma junção que comigo funciona muito bem porque tenho de trabalhar a maneira de ser dos actores quando entram nos meus filmes. Quero-os não como actores, mas como eles mesmos. Quando se trabalha comigo define-se a personagem tal como é a pessoa que a interpreta. Até os não actores são encarados como personagens reais. Para eles é até mais fácil. No fundo é mais fácil para todos. Funciona...
Não lhes dá um texto, um diálogo... O que espera então deles? O que a inspiração do momento ditar?
Não, nada disso. Eu trabalho muito a pré-produção dos filmes. E com os actores fazemos os trabalhos de casa... Discutimos as personagens...
Como num workshop?
Como num workshop, sim. Ensino-os a interpretar os seus papéis. E tentamos comprender as coisas e ver tudo dentro das fronteiras do que é cada um deles. Por isso, quando chega o momento, numa dada cena, em que têm de dizer algo, falarão algo dentro das fronteiras do que definimos ser a personagem. Nunca dirão nada que não faça sentido na personagem. Dirão o que entenderem desde que faça sentido à personagem. O argumento é assim mais como um guia...
Isso vinca um sentido de realismo que busca?
Sim, de facto. E ajuda-os porque assim não os controlo como artistas. Não lhes dou uma direcção específica, deixo-os livres. E resulta, porque sentem que há uma personagem neles e que podem fazer o que entenderem sem uma “direcção” da forma que existe quando se trabalha no cinema mainstream.
O que o levou ao cinema? Começou tarde...
Foi um desafio... Sempre quis fazer cinema. Quando era mais novo queria fazer o primeiro filme aos 26 anos, porque nas Filipinas o realizador mais jovem de então tinha 28 anos. Eu queria ser o primeiro realizador mais novo com um grande filme... É claro que não aconteceu. Pensei depois que queria ser o primeiro realizador de um blockbuster aos 32 anos... Mas também não aconteceu. Então fiz publicidade. E desisti da ideia de ser um realizador de cinema porque estava feliz com o que estava a fazer. Estava feliz com a publicidade, a ganhar bom dinheiro, a viver uma boa vida e estava satisfeito.
Carregou alguma frustração por não ter conseguido entrar no cinema nessa etapa?
Não. Tinha pensado em ser realizador, mas não tinha conseguido e aceitei isso. E não me fez diferença porque não tinha sido realizador antes e não sabia o que sentiria se o tivesse sido... Quando um amigo me convidou a realizar um filme disse: ”porque não”... Podia ser tarde para mim, que estava já com 45 anos. Mas porque não? Seria uma mudança face ao que estava a fazer e podia valer a pena tentar. Então apercebi-me que é um mundo diferente e que comporta um prazer diferente. E traz um outro tipo de felicidade e outro sentido de realização pessoal... O trabalho na publicidade podia ser mais seguro, mas emocionalmente sinto-me mais realizado. Agora posso dizê-lo, mas na altura não sabia que assim seria. Comecei assim a descobrir-me a mim mesmo. E só depois de terminando o filme senti que estava a desenvolver uma linguagem, uma estética minha. Não tinha frequentado nenhuma escola de cinema. Só tinha trabalhado com alguns realizadores...
(continua amanhã)