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Algumas práticas da informação televisiva são levadas a cabo em ambiente de descarada obscenidade. Um exemplo quotidiano é o amontoado de repórteres que espera alguém, normalmente um protagonista da cena política, assaltando-o com microfones e perguntas cruzadas. Que acontece? Quase sempre o mesmo: gera-se uma tensão desagradável e o questionado corre o risco de dizer coisas mais ou menos inseguras e contraditórias.
Não é preciso ser doutorado em ciências das linguagens para compreender que ninguém (político ou não) tem o discernimento divino de lidar com tais formas de agressividade, mantendo alguma consistência discursiva. O certo é que tal prática se instalou como modelo dominante de comunicação (?), não apenas com crescente desvergonha dos repórteres, mas também através da conivência, tácita ou táctica, da maioria dos membros de todos os partidos políticos. Aliás, não será difícil imaginar o que aconteceria se algum político perguntasse o mais sensato: “Os senhores (e as senhoras) repórteres acham que esta é a maneira correcta de estabelecer um diálogo?” Seria imediatamente apupado, não pelos espectadores em casa, mas ali mesmo, pela maioria dos repórteres.
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