Os prémios BAFTA reafirmaram a visão britânica do mundo do cinema — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 de Fevereiro), com o título '"Avatar" e o resto do mundo'.
É mais que provável que Avatar ganhe o Oscar de melhor filme (a atribuir a 7 de Março). Será a consagração de um fenómeno em que, por definição, Hollywood se reconhece: uma espectacular transformação tecnológica acompanhada de uma boa performance de mercado. Em todo o caso, seria uma pena que a felicidade dos contabilistas de Avatar fosse confundida com o cinema do resto do mundo.
Saúde-se, por isso, a sensibilidade e o bom senso dos prémios da academia britânica. A consagração de Estado de Guerra (The Hurt Locker) e da sua realizadora, Kathryn Bigelow, representa o reconhecimento de um cinema ligado aos temas do presente, dramaticamente enraizado numa dimensão humana de que os actores são a essencial matéria narrativa. Os prémios especificamente nacionais surgem também marcados por um simbolismo exemplar: Fish Tank, de Andrea Arnold (melhor filme britânico) é mais um caso notável de persistência da tradição realista, enquanto Moon/O Outro Lado da Lua, de Duncan Jones (melhor primeira obra), reafirma o espaço e as virtudes de uma produção genuinamente independente.
A maior ou menor coincidência dos BAFTA com os Oscars será uma mera pirueta estatística, curiosa mas irrelevante. A questão de fundo é a reafirmação da indústria britânica como uma máquina que, apesar das tradicionais relações com Hollywood, sabe manter as raízes da sua identidade. Pormenor não secundário: na cerimónia, Richard Attenborough, personalidade lendária do cinema britânico, terminou as suas funções como presidente da academia, sucedendo-lhe o Príncipe William. A austeridade britânica é para ser tomada à letra: para eles, o cinema é uma questão de Estado.
É mais que provável que Avatar ganhe o Oscar de melhor filme (a atribuir a 7 de Março). Será a consagração de um fenómeno em que, por definição, Hollywood se reconhece: uma espectacular transformação tecnológica acompanhada de uma boa performance de mercado. Em todo o caso, seria uma pena que a felicidade dos contabilistas de Avatar fosse confundida com o cinema do resto do mundo.
Saúde-se, por isso, a sensibilidade e o bom senso dos prémios da academia britânica. A consagração de Estado de Guerra (The Hurt Locker) e da sua realizadora, Kathryn Bigelow, representa o reconhecimento de um cinema ligado aos temas do presente, dramaticamente enraizado numa dimensão humana de que os actores são a essencial matéria narrativa. Os prémios especificamente nacionais surgem também marcados por um simbolismo exemplar: Fish Tank, de Andrea Arnold (melhor filme britânico) é mais um caso notável de persistência da tradição realista, enquanto Moon/O Outro Lado da Lua, de Duncan Jones (melhor primeira obra), reafirma o espaço e as virtudes de uma produção genuinamente independente.
A maior ou menor coincidência dos BAFTA com os Oscars será uma mera pirueta estatística, curiosa mas irrelevante. A questão de fundo é a reafirmação da indústria britânica como uma máquina que, apesar das tradicionais relações com Hollywood, sabe manter as raízes da sua identidade. Pormenor não secundário: na cerimónia, Richard Attenborough, personalidade lendária do cinema britânico, terminou as suas funções como presidente da academia, sucedendo-lhe o Príncipe William. A austeridade britânica é para ser tomada à letra: para eles, o cinema é uma questão de Estado.