terça-feira, fevereiro 09, 2010

Em conversa: Charlotte Gainsbourg (2/3)

Continuamos a publicação integral de uma entrevista com Charlotte Gainsbourg que serviu de base ao texto publicado dia 6 no DN Gente com o título ‘Uma Voz entre a música e o cinema’.

Porque escolheu Beck como parceiro para criar o novo IRM?
Porque sou uma fã. Adoro o trabalho dele. E nem imaginava o que seria uma colaboração, como seria a música. Foi baseado na minha admiração.

Como foi que o abordou?
Foi a minha editora que lhe telefonou para que, se ele não quisesse trabalhar comigo não ter de mo dizer na cara... (risos) Encontrámo-nos em Los Angeles pouco depois e falámos em organizar uma sessão. Marcámos então uma sessão de cinco dias só para ver como é que sairia dali... No fim dos cinco dias tinha três canções de que gostei. E então perguntei-lhe se ele gostaria de fazer todo o álbum e de continuar a trabalhar comigo. Ele disse OK, e continuámos. E foi tudo assim feito passo a passo... Avançámos juntos e decidimos fazer tudo gradualmente, com liberdade.

Quanto tempo demorou o processo de criação do disco?
Todo o processo levou um ano e meio, comigo a entrar e a sair... Com filmes pelo meio. Fiz o filme com o Lars von Trier. E um filme francês... Foi sempre diferente, sempre que regressava... Tinha de me distanciar das experiências que tinha vivido, com o Lars von Trier. Cada filme fez-me sentir diferente de cada vez. E com o Beck deve ter sido também o mesmo com as experiências que também foi tendo.

As experiências no dia a dia reflectem-se necessariamente no trabalho artístico?
Por vezes ia por mim mesma até Los Angeles e estava meio moody... Acho que o meu estado de espírito era uma reacção ao modo como tinha vivido as várias experiências. Noutras alturas a minha família foi também comigo. Houve dias em que estava mais feliz e fazia outra música. Creio que se sente a diferença das energias a cada vez...

A capa de 5.55 (álbum de 2006)

Em 5:55, de 2006, contou com mais colaboradores... Mais vozes criativas, dos Air a Neil Hannon e Jarvis Cocker. Teve de criar várias personagens para cada uma das sugestões?
Nem por isso… No 5.55 a música era todos dos Air. Daí que se possa falar apenas de uma personagem. Depois trabalhei com o Neil Hannon, dos Divine Comedy, mas ele só pode vir por dois dias. E depois parámos... Chamámos o Jarvis [Cocker] e começámos a trabalhar com ele. Para mim o álbum foi, no fim, música dos Air e letras do Jarvis... O que há de tão diferente face a este novo disco é o facto de neste eu ter de falar apenas com o Beck e ter assim criado com ele uma relação privilegiada. Com o outro disco as pessoas nem precisavam por vezes de mim. Era uma espectadora... Eu fazia parte de tudo aquilo, claro, mas havia uma comunicação que por vezes acontecia sem mim.

O que a fez regressar à música 20 anos depois...
Acho que isso se deveu mesmo aos Air. Eles queriam fazer qualquer coisa. Eu também. A pouco e pouco, eu passei a pensar num projecto que podia ser musical. Mas levei 20 anos a lá chegar. O facto de ter conhecido os Air e deles quererem fazer algo comigo tornou tudo possível. Mas foi também o facto de eu, os Air e o Nigel Godrich, que também esteve ligado a tudo logo desde o início, termos criado um projecto comum que me interessava. Senão teria sido mais difícil.

Vai esperar muito pelo próximo disco?
Não sei... Não faço ideia e não tenho nada planeado. Para mim é difícil projectar-me no futuro e pensar no que vou a estar a fazer daqui a um ano ou dois. Para já sei que vou fazer uma digressão com este disco.

(continua amanhã)