segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Em conversa: Charlotte Gainsbourg (1/3)

Iniciamos hoje a publicação integral de uma entrevista com Charlotte Gainsbourg que serviu de base ao texto publicado dia 6 no DN Gente com o título ‘Uma Voz entre a música e o cinema’

É filha de Jane Birkin e Serge Gainsbourg… Sente o peso do dos nomes que transporta no seu bilhete de identidade?
Não o vejo dessa forma, mas há quem pense que assim seja, é verdade. O peso que o nome representa... Ou se corresponderei às expectativas que o nome comporta... No fundo é disso que se fala... Eu admiro mesmo muito os meus pais. Quando penso na relação com eles e no facto de fazer o mesmo que eles é contudo algo complicado para mim e prefiro nem pensar nisso... E por isso é importante que haja alguma distância. O próprio facto de cantar em inglês ajuda a estabelecer algumas diferenças e sublinha o facto de não estar a usar os seus sapatos, o que para mim é importante...

A sua mãe, apesar de inglesa, canta sobretudo em francês, é verdade...
A minha mãe também cantou em inglês, a dados momentos. Mas é bom não ter referências a mais.

O cinema e a música surgem na obra dos dois. É como uma herança?
Na verdade comecei quando tinha 12 anos. Fui escolhida... Fui fazer uns testes e foi a escolhida para fazer um pequeno papel. E esse papel levou-me a outro. Mas eles nunca me forçaram a nada... No início nem sentia que estava a fazer o mesmo que eles. Estava a divertir-me mesmo com aquilo que estava a começar a fazer. E ouvia sobretudo a minha mãe a falar do que aquele trabalho também lhe dava, do entusiasmo... E certamente por isso queria fazer exactamente o mesmo que a minha mãe, porque a via entusiasmada. Fui assistir a rodagens quando era pequena. E tudo me parecia muito mágico. Aquilo atraiu-me muito. Mas depois comecei a trabalhar e estava por minha conta. Não os referia... Ia sozinha para as filmagens... Eles foram corajosos. Deixaram-me ir... Tive muita liberdade quando era pequena... Só agora é que apercebo do que fizeram. E reparo na carreira que ambos fizeram... Quando eu comecei era muito inocente. Naturalmente o que eles faziam e não não me parecia ser nada de especial (risos).

Ainda gravou discos com o seu pai...
Sim, quando tinha 12 anos comecei por gravar o Lemon Incest, num disco dele. Depois ele escreveu um álbum inteiro para mim. Tinha 16 anos quando o fiz.

E levou anos a voltar à música...
Foram 20 anos...

Que relações sente haver entre o trabalho na música e no cinema?
Não se relacionam. São mesmo mundos diferentes. E agora tenho de lutar para fazer uma digressão... Não é o mesmo tipo de trabalho nem o mesmo tipo de pessoas. E é disso mesmo que gosto. É como ir de uma família para outra, que não se relacionam entre si... Naturalmente há em ambos uma vontade de nos expressarmos...
(continua amanhã)