O chamado caso Marcelo, envolvendo o trabalho de Marcelo Rebelo de Sousa na RTP, possui um cruel poder revelador: através das suas incidências compreendemos como o aparelho televisivo (na sua condição não assumida de aparelho ideológico) representa, e se auto-representa, a própria diversidade do país e dos seus cidadãos — este texto integrava uma crónica de televisão publicada no Diário de Notícias (29 de Janeiro).
A preocupação em discutir o “caso Marcelo” (e a sua eventual saída da RTP) como um gravíssimo jogo de equilíbrios políticos seria apenas comovente, se não fosse historicamente cega. Em boa verdade, os que vão sofrendo com as atribulações mediáticas de tais equilíbrios parecem acreditar que pensar o país é uma espécie de panaceia ideológica que pode (e deve) ser “cientificamente” deduzida dos resultados das urnas. Se levassem tão pueril aritmética às suas mais lógicas consequências, perguntariam também como é que podem estar representados os abstencionistas dos últimos actos eleitorais. Contas redondas, são cinco milhões de cidadãos. Que significa a sua atitude de negação? E como figurá-la televisivamente?
A preocupação em discutir o “caso Marcelo” (e a sua eventual saída da RTP) como um gravíssimo jogo de equilíbrios políticos seria apenas comovente, se não fosse historicamente cega. Em boa verdade, os que vão sofrendo com as atribulações mediáticas de tais equilíbrios parecem acreditar que pensar o país é uma espécie de panaceia ideológica que pode (e deve) ser “cientificamente” deduzida dos resultados das urnas. Se levassem tão pueril aritmética às suas mais lógicas consequências, perguntariam também como é que podem estar representados os abstencionistas dos últimos actos eleitorais. Contas redondas, são cinco milhões de cidadãos. Que significa a sua atitude de negação? E como figurá-la televisivamente?