O que é, afinal, o comentário político? E porque se mantém a ideia segundo a qual só há um registo televisivo para o fazer? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (22 de Janeiro), com o título 'Os alunos do professor Marcelo'.
Há qualquer coisa de culturalmente patético na agitação criada em torno da eventual saída de Marcelo Rebelo de Sousa da RTP. Vivemos numa cultura do alarmismo e, como um vírus, rapidamente se sentiu a insinuação de uma possível censura. Há mesmo um desavergonhado estilo jornalístico segundo o qual qualquer cidadão não passa de uma potencial vítima das instituições: qualquer resistência institucional é apresentada como uma ameaça de censura.
Não que a maneira como a RTP tem gerido a situação seja um primor de subtileza. O certo é que o quadro da discussão (?) decorre de um banal axioma mediático: estaria em causa uma matriz universal e intocável de excelência televisiva. E é isso que vale a pena questionar. Sobretudo porque pode haver um ponto de vista diverso (que eu partilho), segundo o qual o modelo de abordagem da cena política tipificado por Marcelo Rebelo de Sousa se faz, no essencial, de sintomas mais ou menos perversos dessa cena política, elaborando uma visão novelesca dos combates políticos que, não por acaso, tende a desembocar em exercícios de avaliação “psicológica” dos interesses e métodos dos respectivos protagonistas.
Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social, tem feito um esforço heróico e altamente respeitável para defender a mais básica pluralidade de opiniões no seio da RTP, naturalmente incluindo o direito inalienável à expressão de Marcelo Rebelo de Sousa (quer como cidadão autónomo, quer como emanação de uma determinada área ideológica). Em todo o caso, a questão de fundo ultrapassa (e muito!) estes jogos florais em que todos fingem estar a salvar a democracia: seria preciso algum dos protagonistas vir lembrar que, televisivamente e não só, discutir política não é percorrer uma agenda de folhetins fulanizados, mas ajudar a pensar os fundamentos (e as práticas) do nosso viver colectivo.
Afinal de contas, vivemos num país convertido às catástrofes, a ponto de já não haver chuvas e neve, mas “alertas” de todas as cores. Num país assim, porque é que alguém haveria de sugerir que talvez seja possível escolher outros modos de pensar a política? Como é óbvio, o professor Marcelo formou muitos alunos.
Há qualquer coisa de culturalmente patético na agitação criada em torno da eventual saída de Marcelo Rebelo de Sousa da RTP. Vivemos numa cultura do alarmismo e, como um vírus, rapidamente se sentiu a insinuação de uma possível censura. Há mesmo um desavergonhado estilo jornalístico segundo o qual qualquer cidadão não passa de uma potencial vítima das instituições: qualquer resistência institucional é apresentada como uma ameaça de censura.
Não que a maneira como a RTP tem gerido a situação seja um primor de subtileza. O certo é que o quadro da discussão (?) decorre de um banal axioma mediático: estaria em causa uma matriz universal e intocável de excelência televisiva. E é isso que vale a pena questionar. Sobretudo porque pode haver um ponto de vista diverso (que eu partilho), segundo o qual o modelo de abordagem da cena política tipificado por Marcelo Rebelo de Sousa se faz, no essencial, de sintomas mais ou menos perversos dessa cena política, elaborando uma visão novelesca dos combates políticos que, não por acaso, tende a desembocar em exercícios de avaliação “psicológica” dos interesses e métodos dos respectivos protagonistas.
Azeredo Lopes, presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social, tem feito um esforço heróico e altamente respeitável para defender a mais básica pluralidade de opiniões no seio da RTP, naturalmente incluindo o direito inalienável à expressão de Marcelo Rebelo de Sousa (quer como cidadão autónomo, quer como emanação de uma determinada área ideológica). Em todo o caso, a questão de fundo ultrapassa (e muito!) estes jogos florais em que todos fingem estar a salvar a democracia: seria preciso algum dos protagonistas vir lembrar que, televisivamente e não só, discutir política não é percorrer uma agenda de folhetins fulanizados, mas ajudar a pensar os fundamentos (e as práticas) do nosso viver colectivo.
Afinal de contas, vivemos num país convertido às catástrofes, a ponto de já não haver chuvas e neve, mas “alertas” de todas as cores. Num país assim, porque é que alguém haveria de sugerir que talvez seja possível escolher outros modos de pensar a política? Como é óbvio, o professor Marcelo formou muitos alunos.