A divulgação das escutas a Pinto da Costa no YouTube relança — e, provavelmente, agrava — três componentes críticas da actual sociedade portuguesa:
1 - o papel do futebol e das suas instituições na dinâmica social;
2 - o funcionamento das instituições da justiça;
3 - as relações entre todas essas instituições e o espaço jornalístico.
Aumentam as dúvidas e perplexidades sobre tais questões. Para além de "inocentes" e "culpados", é inevitável reconhecer que o nosso tecido social e institucional está cada vez mais contaminado pela estética do Big Brother, reduzindo todas as relações (privadas ou institucionais) a formas obscenas de exposição e, em última instância, promovendo o factor humano a qualquer coisa de banal, descartável e mercantil [dossier de notícias no DN].
* * * * * Seja como for, o choque do momento é tanto maior quanto ninguém — nomeadamente na classe política — parece disponível para questionar o papel da entidade sem a qual este novo episódio seria impensável. Que entidade? Pinto da Costa? O F. C. Porto? O Procurador Geral da República?... Não, nada disso. Essa "entidade-sombra" que ninguém questiona é o próprio YouTube.
* * * * * O assunto, em boa verdade, envolve toda a rede de conexões em que passámos a viver. Não se trata, entenda-se, de cair na facilidade de querer dividir o mundo — sobretudo o mundo da Internet — entre "puros" e "pecadores". Nem podemos ignorar o fascinante papel que o YouTube tem desempenhado como uma espécie de plataforma "libertária" para a divulgação de muita informação interessante e importante (a par de muito lixo, convenhamos).
O que importa reter é um dado conjuntural do nosso século XXI que, como é óbvio, ultrapassa a existência específica do YouTube: as entidades da Net que se oferecem como plataformas de integração e amostragem de "conteúdos" tendem a ser encaradas como figuras sem espessura moral ou legal que, pura e simplesmente, estão ali — e ninguém questiona as suas regras de funcionamento.
Dizer isto, entenda-se também, não tem nada a ver com a defesa de qualquer atitude moralista, legalista ou até de discriminação cultural — sabemos o que isso pode significar, nomeadamente através dos problemas que o YouTube e a companhia que integra, Google, têm encontrado no mercado da China [leia-se o ponto da situação no New York Times]. O que está em jogo é, no fundo, o entendimento do nosso mundo de comunicações: nenhuma entidade desse mundo — por exemplo, o YouTube — pode ser dispensada de responder e corresponder a formas específicas de funcionamento social.
* * * * * O que é, então, o social num planeta que vive na simultaneidade da Internet? — eis a interrogação que importa formular. É bem certo que todos os dias somos bombardeados com anúncios de telemóveis e ligações à Net que descrevem o presente como um paraíso de transparência e acessibilidade(s). Ora, já é altura de superarmos esse infantilismo e, pelo menos, relembrar que quem lida com informação — produzindo-a ou difundindo-a — não pode ser estranho a formas concretas de responsabilidade e responsabilização. Se isto é válido para o mais incipiente utilizador da blogosfera, não pode deixar de o ser também para o YouTube.
1 - o papel do futebol e das suas instituições na dinâmica social;
2 - o funcionamento das instituições da justiça;
3 - as relações entre todas essas instituições e o espaço jornalístico.
Aumentam as dúvidas e perplexidades sobre tais questões. Para além de "inocentes" e "culpados", é inevitável reconhecer que o nosso tecido social e institucional está cada vez mais contaminado pela estética do Big Brother, reduzindo todas as relações (privadas ou institucionais) a formas obscenas de exposição e, em última instância, promovendo o factor humano a qualquer coisa de banal, descartável e mercantil [dossier de notícias no DN].
O que importa reter é um dado conjuntural do nosso século XXI que, como é óbvio, ultrapassa a existência específica do YouTube: as entidades da Net que se oferecem como plataformas de integração e amostragem de "conteúdos" tendem a ser encaradas como figuras sem espessura moral ou legal que, pura e simplesmente, estão ali — e ninguém questiona as suas regras de funcionamento.
Dizer isto, entenda-se também, não tem nada a ver com a defesa de qualquer atitude moralista, legalista ou até de discriminação cultural — sabemos o que isso pode significar, nomeadamente através dos problemas que o YouTube e a companhia que integra, Google, têm encontrado no mercado da China [leia-se o ponto da situação no New York Times]. O que está em jogo é, no fundo, o entendimento do nosso mundo de comunicações: nenhuma entidade desse mundo — por exemplo, o YouTube — pode ser dispensada de responder e corresponder a formas específicas de funcionamento social.