A divulgação das escutas a Pinto da Costa no YouTube relança — e, provavelmente, agrava — três componentes críticas da actual sociedade portuguesa:1 - o papel do futebol e das suas instituições na dinâmica social;
2 - o funcionamento das instituições da justiça;
3 - as relações entre todas essas instituições e o espaço jornalístico.
Aumentam as dúvidas e perplexidades sobre tais questões. Para além de "inocentes" e "culpados", é inevitável reconhecer que o nosso tecido social e institucional está cada vez mais contaminado pela estética do Big Brother, reduzindo todas as relações (privadas ou institucionais) a formas obscenas de exposição e, em última instância, promovendo o factor humano a qualquer coisa de banal, descartável e mercantil [dossier de notícias no DN].
O que importa reter é um dado conjuntural do nosso século XXI que, como é óbvio, ultrapassa a existência específica do YouTube: as entidades da Net que se oferecem como plataformas de integração e amostragem de "conteúdos" tendem a ser encaradas como figuras sem espessura moral ou legal que, pura e simplesmente, estão ali — e ninguém questiona as suas regras de funcionamento.Dizer isto, entenda-se também, não tem nada a ver com a defesa de qualquer atitude moralista, legalista ou até de discriminação cultural — sabemos o que isso pode significar, nomeadamente através dos problemas que o YouTube e a companhia que integra, Google, têm encontrado no mercado da China [leia-se o ponto da situação no New York Times]. O que está em jogo é, no fundo, o entendimento do nosso mundo de comunicações: nenhuma entidade desse mundo — por exemplo, o YouTube — pode ser dispensada de responder e corresponder a formas específicas de funcionamento social.