domingo, janeiro 24, 2010

O álbum (da capa em) branco

Discografia Beatles - 53
'The Beatles' (álbum), 1968

É habitualmente referido como o “álbum branco”, nome que decorre do facto da capa não apresentar nenhum elemento senão mesmo, e sob fundo branco, o nome do grupo impresso em relevo. Na verdade chama-se simplesmente The Beatles. A capa foi uma criação de Richard Hamilton, um artista pop que tinha recentemente organizado uma retrospectiva da obra de Marcel Duchamp na Tate Gallery e o minimalismo da sua visão revelava um evidente contraste face ao trabalho visual mais elaborado de Sgt Peppers, editado no ano anterior. Álbum duplo, com um vasto corpo de canções a lançar ideias nas mais variadas direcções, o disco é um retrato de um ano tenso para o grupo e assinala o momento em que os interesses musicais e temáticos de cada um segue caminho próprio.
As canções começaram a surgir na Primavera de 68, durante um retiro para meditação na Índia, regressando os músicos a Londres com perto de 40 canções. Os trabalhos em Abbey Road (com pontuais sessões num outro estúdio) começaram em Maio, mas revelando aos poucos um clima de tensão. Uma nova forma de trabalhar mostrava por vezes alguns dos fab fiur a trabalhar, por sua conta, num estúdio próprio… A meio de uma sessão Ringo Starr chega mesmo a abandonar o trabalho, criticando a falta de protagonismo das suas contribuições. Geoff Emerick, o engenheiro de som, afasta-se a meio dos trabalhos. O próprio George Martin, chega a deixar temporariamente os trabalhos nas mãos de um outro produtor… Em contrapartida este é um disco aberto a colaborações, de Eric Clapton que toca guitarra em While My Guitar Gently Weeps e Nicky Hopkins toca piano eléctrico em Revolution.
A forma final do álbum não foi decisão unânime, havendo quem preferisse ter editado dois álbuns em separado e não um duplo. A variedade de caminhos seguidos acaba contudo por ser um dos valores maiores de um disco que tanto aceita as heranças do teatro musical do início do século como revela interesse pela música de vanguarda contemporânea, sem perder contacto com o rock’n’roll e outros espaços antes já percorridos.