Uma das questões que nos dias de hoje regularmente se coloca nos universos da música clássica leva solistas, pequenos grupos, maestros e orquestras a reflectir sobre como se pode abordar sob novo ângulo todo um corpo de obras já interpretadas vezes sem conta... No plano da interpretação surgem inevitáveis marcas de personalidade, por vezes descobrindo novos caminhos e entoações que dão corpo a essa sensação de novo. Mas é também possível inovar em outras frentes. E o norueguês Leif Ove Andsnes encontrou, no ano passado, uma possível resposta para esta questão.
O muito premiado pianista já viu por diversas vezes as já referidas marcas de identidade interpretativas na sua relação com o piano (e com obras vários compositores) a vincar essa natural busca pela novidade. Porém, para enfrentar uma série de plateias, levando consigo os célebres Quadros Numa Exposição de Modest Mussorgsky (1839-1881), aceitou um desafio que lhe valeu pelo caminho alguns momentos de dúvida: trabalhar com um artista de graffiti. Ou seja, aliar uma música do século XIX às visões de uma figura associada a uma expressão visual característica da cultura urbana dos nossos dias e que musicalmente se expressa, geralmente, através do hip hop. Parecia, de facto, o mais improvável dos casamentos. E Robin Rhode, um sul-africano de 33 anos, com obra internacionalmente reconhecida desde inícios dos anos zero, tinha até então uma relação com a música em comprimento de onda claramente afastado de terreno clássico. De resto, no documentário que acompanha a edição de Pictures Reframed, vemos o momento em que, logo num primeiro encontro, o artista plástico mostra a música que ouve ao pianista. Sem surpresas... é mesmo hip hop.
Apesar das incógnitas em jogo, Leif Ove Andsnes aceitou enfrentar o desconhecido. Há pouco tempo tínhamo-lo visto sentado ao piano, à beira de um alto penhasco num fjord na sua Noruega natal, em imagens que correram mundo em Ballad For Edward Grieg (ed. em DVD pela EMI Classics). Convenhamos que, desta vez, a vertigem poderá, a início, ter sido eventualmente maior...
Apesar das incógnitas em jogo, Leif Ove Andsnes aceitou enfrentar o desconhecido. Há pouco tempo tínhamo-lo visto sentado ao piano, à beira de um alto penhasco num fjord na sua Noruega natal, em imagens que correram mundo em Ballad For Edward Grieg (ed. em DVD pela EMI Classics). Convenhamos que, desta vez, a vertigem poderá, a início, ter sido eventualmente maior...
Filho de professores de música, nascido em Karmoy (Noruega) em 1970, Leif Ove Andsnes (à esquerda na imagem) formou-se em Bergen, num conservatório com o nome de Grieg, compositor norueguês de cuja música desde cedo admirou e divulgou. Começou a tocar frente a plateias internacionais bem cedo, desenvolvendo um estilo próprio que diz ter sido influenciado, entre outros, por Sviatoslav Richter, Arturo Benedetti e Dinu Lipatti. Hoje é professor em várias escolas de música, de Olso e Copenhaga. Vive entre Bergen e a capital dinamarquesa, embora passe mais noites por ano entre hotéis, aviões e comboios, respondendo às solicitações de sucessivas digressões. Quando tem tempo livre passa pela sua casa de montanha na região de Hardanger (Noruega). E, de Verão, está por Risor, durante o festival de música de câmara que, ano após ano, tem colocado a pequena localidade norueguesa no mapa dos grandes acontecimentos musicais à escala global.
Natural da Cidade do Cabo (África do Sul), onde nasceu em 1976, Robin Rhode vive e trabalha em Berlim. O primeiro encontro entre o pianista e o artista plástico (cuja obra parte de ideias da cultura do graffiti) teve lugar em 2007 na Haus der Kunst, em Munique, quando o sul-africano apresentava a exposição Walk Off.
Natural da Cidade do Cabo (África do Sul), onde nasceu em 1976, Robin Rhode vive e trabalha em Berlim. O primeiro encontro entre o pianista e o artista plástico (cuja obra parte de ideias da cultura do graffiti) teve lugar em 2007 na Haus der Kunst, em Munique, quando o sul-africano apresentava a exposição Walk Off.
O projecto de ligar a música de Mussorgsky às novas imagens foi crescendo em paralelo, e pelo caminho com momentos de alguma angústia para o pianista. Robin, que nunca tinha visto um concerto de música clássica, ouviu a dada altura Leif a tocar, para si, num auditório de cadeiras vazias. Robin teve algumas outras exposições pelo caminho. E Leif, além da agenda de concertos, foi preparando a digressão que levaria para a estrada Pictures Reframed. Pelo caminho passou por Londres, onde em Dezembro de 2008 gravou, no Henry Wood Hall, uma versão em estúdio de Quadros Numa Exposição.
Pictures Reframed revelava-se, no final de toda a digressão, uma etapa feliz na vida do pianista. Próximo episódio? O Concerto Para Piano N.º 4 de Rachmaninov, que em Maio irá gravar com a London Symphony Orchestra.