J.L.: Sob o signo de Ludwig van Beethoven, Maria João Pires [foto], a Orquestra Sinfónica de Londres e Sir John Eliot Gardiner reuniram-se para um concerto central na temporada 2009/2010 da Fundação Gulbenkian — foi no Coliseu dos Recreios (26 de Janeiro), perante um sala cheia, rendida à excelência dos intérpretes. O Concerto para Piano e Orquestra Nº 2, em Si bemol maior, op. 19, emergiu, assim, na vibração dos seus contrastes e subtilezas de diálogo interno, ao mesmo tempo preservando um clima essencial de intimidade — para o maestro e a pianista, importa não "dramatizar" a música de Beethoven, antes deixando-a exprimir as tensões que a habitam, por vezes com uma contenção que redobra as suas emoções. A primeira parte começara com a emblemática Egmont, Abertura, op. 84. Na segunda, o reencontro com a Sinfonia Nº 6, em Fá maior, op. 68, Pastoral, aconteceu ainda num registo de elaborada narratividade, como que expondo as camadas de uma ficção consolidada pelo tempo, pelas memórias, pelo permanente desejo de redescoberta. Ou como mesmo as obras mais conhecidas podem envolver a cristalina novidade da "primeira vez".
N.G: Um dos momentos maiores da obra discográfica de Sir John Eliot Gardiner (não esquecendo naturalmente as integrais em curso das cantatas de Bach e da obra sinfónica de Brahms, via Soli Deo Gloria, a editora por si criada) foi, em meados de 90, uma espantosa e cativante abordagem à integral das sinfonias de Beethoven, que gravou com a Orchestre Revolutionaire et Romantique para a Archiv. Uma gravação que estabeleceu então importante peça de referência na história das chamadas interpretações “de época”… Grande conhecedor, portanto, da obra do compositor, o maestro deixou evidente essa relação de profunda intimidade com a sua música ao dirigir ontem a London Symphony Orchestra (num programa que hoje é apresentado em Madrid e nos próximos dias passará por Paris, Frankfurt e Londres), contando com a presença de Maria João Pires para o Concerto para Piano Nº 2 (que fechou a primeira parte do programa). Com a pianista as subtilezas de uma espantosa escrita para piano ganharam vida no palco do Coliseu dos Recreios. Numa igualmente magnífica Sinfonia Nº 6 a música projectou com clareza todo um conjunto de quadros feitos de imagens e sensações que evocam o bucolismo rural que correu como “programa” descritivo para Beethoven e que sublinha, de resto, o nome pelo qual a obra é também conhecida: Pastoral. Os gestos de Eliot Gardiner, de discreta elegância, eram, tal como a música que ganhava forma sob a sua direcção, a perfeita materialização, em noite lisboeta de início do século XXI, de uma obra criada numa outra época e num outro lugar, as suas intenções atravessando assim de forma rara o tempo e o espaço.
N.G: Um dos momentos maiores da obra discográfica de Sir John Eliot Gardiner (não esquecendo naturalmente as integrais em curso das cantatas de Bach e da obra sinfónica de Brahms, via Soli Deo Gloria, a editora por si criada) foi, em meados de 90, uma espantosa e cativante abordagem à integral das sinfonias de Beethoven, que gravou com a Orchestre Revolutionaire et Romantique para a Archiv. Uma gravação que estabeleceu então importante peça de referência na história das chamadas interpretações “de época”… Grande conhecedor, portanto, da obra do compositor, o maestro deixou evidente essa relação de profunda intimidade com a sua música ao dirigir ontem a London Symphony Orchestra (num programa que hoje é apresentado em Madrid e nos próximos dias passará por Paris, Frankfurt e Londres), contando com a presença de Maria João Pires para o Concerto para Piano Nº 2 (que fechou a primeira parte do programa). Com a pianista as subtilezas de uma espantosa escrita para piano ganharam vida no palco do Coliseu dos Recreios. Numa igualmente magnífica Sinfonia Nº 6 a música projectou com clareza todo um conjunto de quadros feitos de imagens e sensações que evocam o bucolismo rural que correu como “programa” descritivo para Beethoven e que sublinha, de resto, o nome pelo qual a obra é também conhecida: Pastoral. Os gestos de Eliot Gardiner, de discreta elegância, eram, tal como a música que ganhava forma sob a sua direcção, a perfeita materialização, em noite lisboeta de início do século XXI, de uma obra criada numa outra época e num outro lugar, as suas intenções atravessando assim de forma rara o tempo e o espaço.