A posição de Jay Leno (Conan O'Brien e Jimmy Fallon) na grelha de programação da NBC abriu uma crise que revela sintomas críticos da evolução do próprio conceito de televisão generalista — este texto foi publicado no Diário de Notícias (15 de Janeiro), com o título 'As aventuras de Jay Leno'.
Têm andado agitadas as águas na programação da NBC, nos EUA. E por causa de um dos seus nomes mais emblemáticos: Jay Leno. Primeiro, arrancou com The Jay Leno Show, programa de uma hora de duração, tendo o seu clássico The Tonight Show passado para Conan O’Brien. A ideia era colocar Leno em horário nobre, rentabilizando a sua imagem de muitos anos. Assim aconteceu durante quatro meses, mas com resultados que estão longe de entusiasmar a NBC. Efeito prático: abandonando a ideia de testar The Jay Leno Show durante um ano, a estação propõe-se manter Leno onde está (22h00) apenas até ao começo das transmissões dos Jogos Olímpicos de Inverno (12 de Fevereiro). Depois, será “empurrado” para as 23h35, reduzindo a sua presença a meia hora. No alinhamento da madrugada, deverão seguir-se The Tonight Show (00h05), com Conan O’Brien, e Late Night, com Jimmy Fallon (01h05).
Se as coisas vão ficar assim ou não, não é seguro (na altura em que escrevo, Conan O’Brien declarou ainda não ter chegado a acordo para o novo arranjo). Em todo o caso, há aqui uma convulsão que não pode ser avaliada apenas através da passagem destes programas na Europa, em particular nos nossos canais do cabo. É uma convulsão que está para além do valor de cada um dos apresentadores, uma vez que joga com o conceito de horário nobre.
Na prática, os programadores da NBC estão a experimentar as agravadas angústias da formulação mais tradicional desse conceito (pelo que o seu drama, sendo americano, é também eminentemente universal). Os valores da chamada televisão generalista estão cada vez mais abalados pela proliferação do cabo, pela variedade da sua oferta e, inclusive, pelos seus instrumentos de gravação. Dito de outro modo: não é possível combater o cabo através do horário nobre porque, no cabo, o conceito... não existe.
Em boa verdade, isso significa também que os instrumentos convencionais de medida (audiências, shares, etc.) são mais do que nunca insuficientes, ou mesmo inadequados, para avaliar a dinâmica das televisões. Quem, um destes dias, tiver a coragem de o reconhecer, poderá estar a iniciar a revolução televisiva do século XXI, transfigurando todas as suas bases económicas.
Têm andado agitadas as águas na programação da NBC, nos EUA. E por causa de um dos seus nomes mais emblemáticos: Jay Leno. Primeiro, arrancou com The Jay Leno Show, programa de uma hora de duração, tendo o seu clássico The Tonight Show passado para Conan O’Brien. A ideia era colocar Leno em horário nobre, rentabilizando a sua imagem de muitos anos. Assim aconteceu durante quatro meses, mas com resultados que estão longe de entusiasmar a NBC. Efeito prático: abandonando a ideia de testar The Jay Leno Show durante um ano, a estação propõe-se manter Leno onde está (22h00) apenas até ao começo das transmissões dos Jogos Olímpicos de Inverno (12 de Fevereiro). Depois, será “empurrado” para as 23h35, reduzindo a sua presença a meia hora. No alinhamento da madrugada, deverão seguir-se The Tonight Show (00h05), com Conan O’Brien, e Late Night, com Jimmy Fallon (01h05).
Se as coisas vão ficar assim ou não, não é seguro (na altura em que escrevo, Conan O’Brien declarou ainda não ter chegado a acordo para o novo arranjo). Em todo o caso, há aqui uma convulsão que não pode ser avaliada apenas através da passagem destes programas na Europa, em particular nos nossos canais do cabo. É uma convulsão que está para além do valor de cada um dos apresentadores, uma vez que joga com o conceito de horário nobre.
Na prática, os programadores da NBC estão a experimentar as agravadas angústias da formulação mais tradicional desse conceito (pelo que o seu drama, sendo americano, é também eminentemente universal). Os valores da chamada televisão generalista estão cada vez mais abalados pela proliferação do cabo, pela variedade da sua oferta e, inclusive, pelos seus instrumentos de gravação. Dito de outro modo: não é possível combater o cabo através do horário nobre porque, no cabo, o conceito... não existe.
Em boa verdade, isso significa também que os instrumentos convencionais de medida (audiências, shares, etc.) são mais do que nunca insuficientes, ou mesmo inadequados, para avaliar a dinâmica das televisões. Quem, um destes dias, tiver a coragem de o reconhecer, poderá estar a iniciar a revolução televisiva do século XXI, transfigurando todas as suas bases económicas.