Nas Nuvens é um título não muito feliz para Up in the Air, já que restringe a pluralidade de sugestões do original. A personagem central, Ryan Bingham (George Clooney), não anda exactamente “nas nuvens” porque, como se costuma dizer, seja um “cabeça no ar”. Nada disso: ele anda literalmente nas nuvens, isto é, “pelos ares” (up in the air), viajando constantemente de avião no exercício da sua profissão.
É um pormenor. Mas é um pormenor essencial para percebermos o funcionamento mental de Ryan (e também para admirarmos a subtil composição de Clooney). Ele é um profissional da gestão de empresas, um executor da mais fria lógica capitalista que, a partir da abstracção de números e estatísticas, pode lançar qualquer pessoa no desemprego: Ryan, precisamente, desloca-se de cidade em cidade (“pelos ares”) para pôr em prática essa política de despedimentos, sendo ele o responsável pela respectiva comunicação verbal às pessoas despedidas.
Num mundo mediático dominado pelas notícias sobre as proezas técnicas de Avatar, acaba por prevalecer a imagem simplista do cinema americano como um universo estranho às convulsões sociais. De facto, de George Cukor a Sidney Lumet, são muitos os autores que podem desmentir tal preconceito. O caso do filme de Jason Reitman [foto], que antes realizara Obrigado por Fumar e Juno, é tanto mais interessante quanto pode ser descrito como um sintoma da complexa herança económica e cultural da “era Bush”. Dir-se-ia que o seu anti-herói existe como uma espécie de duplo perverso das figuras mitológicas da nação americana: já não viaja em direcção a Oeste, como os pioneiros, mas num permanente ziguezague que transfigura qualquer mapa num verdadeiro gráfico económico; já não procura novas terras, antes funciona como instrumento de uma vivência burocrática, sem raízes em nenhum lugar. É esse, aliás, o tema subjacente a todo o filme: até que ponto as personagens femininas podem devolver Ryan ao mundo cá em baixo, distante das ligações aéreas e dos seus prazeres codificados?
Up in the Air impõe-se, assim, como mais um exemplo de um bizarro e fascinante realismo social. Mais do que isso: tendo em conta que é protagonizado por um dos actores americanos mais conhecidos em todo o planeta, o filme contraria também a noção simplista segundo a qual as estrelas só existem para ilustrar os “artifícios” do espectáculo. Mérito de Clooney, sabedoria de Reitman.
É um pormenor. Mas é um pormenor essencial para percebermos o funcionamento mental de Ryan (e também para admirarmos a subtil composição de Clooney). Ele é um profissional da gestão de empresas, um executor da mais fria lógica capitalista que, a partir da abstracção de números e estatísticas, pode lançar qualquer pessoa no desemprego: Ryan, precisamente, desloca-se de cidade em cidade (“pelos ares”) para pôr em prática essa política de despedimentos, sendo ele o responsável pela respectiva comunicação verbal às pessoas despedidas.
Num mundo mediático dominado pelas notícias sobre as proezas técnicas de Avatar, acaba por prevalecer a imagem simplista do cinema americano como um universo estranho às convulsões sociais. De facto, de George Cukor a Sidney Lumet, são muitos os autores que podem desmentir tal preconceito. O caso do filme de Jason Reitman [foto], que antes realizara Obrigado por Fumar e Juno, é tanto mais interessante quanto pode ser descrito como um sintoma da complexa herança económica e cultural da “era Bush”. Dir-se-ia que o seu anti-herói existe como uma espécie de duplo perverso das figuras mitológicas da nação americana: já não viaja em direcção a Oeste, como os pioneiros, mas num permanente ziguezague que transfigura qualquer mapa num verdadeiro gráfico económico; já não procura novas terras, antes funciona como instrumento de uma vivência burocrática, sem raízes em nenhum lugar. É esse, aliás, o tema subjacente a todo o filme: até que ponto as personagens femininas podem devolver Ryan ao mundo cá em baixo, distante das ligações aéreas e dos seus prazeres codificados?
Up in the Air impõe-se, assim, como mais um exemplo de um bizarro e fascinante realismo social. Mais do que isso: tendo em conta que é protagonizado por um dos actores americanos mais conhecidos em todo o planeta, o filme contraria também a noção simplista segundo a qual as estrelas só existem para ilustrar os “artifícios” do espectáculo. Mérito de Clooney, sabedoria de Reitman.