Uma caixa de quatro CD traz pela primeira vez a disco um olhar completo por uma série de espectáculos que a cantora deu no palco do pequeno Crescendo Club, em Hollywood, em 1961 e 1962. Este texto foi publicado na edição do DN de 22 de Dezembro com o título ‘Reencontrar Memórias Perdidas de Ella Fitzgerald’.
Hollywood, 11 de Maio de 1962. O Crescendo Club, em pleno Sunset Strip, acolhia a primeira noite de uma residência de onze dias (um apenas para descanso pelo meio) de Ella Fitzgerald. Ella In Hollywood, um LP, editado meses depois, recordaria alguns momentos dessa passagem por Los Angeles. Mas a história completa dessas noites no Crescendo Club só agora chega a disco, numa caixa de quatro CD lançada pela Verve.
Aos 44 anos, e com carreira discográfica desde finais da década de 30, a cantora tinha já uma impressionante obra em disco, entre a qual grande parte dos títulos que gravou na série de songbooks que hoje representa um dos marcos fulcrais da sua discografia. Nas dez noites que actuou no palco do Crescendo, poucas vezes repetiu canções, percorrendo vários autores e etapas. Norman Granz, o fundador a Verve Records (editora que assinara Ella Fitzgerald em 1956), decidira gravar os espectáculos. Mas ao contrário do que era habitual, ou seja, registando uma ou duas das noites, optou por gravar, na íntegra, todos os concertos de 11 a 21 de Maio. Desse conjunto nasceria, através de uma selecção, o já referido Ella In Hollywood. O volume maior de gravações, somado ao registo de duas outras noites no mesmo palco (a 29 e 30 de Junho de 1962), permite agora, quase 50 anos depois, a descoberta de uma experiência em palco única, na caixa Twelve Nights In Hollywood.
Ella tinha feito uma digressão europeia em Fevereiro de 1961 na qual fora acompanhada por um quarteto constituído por Lou Levy (piano), Herb Ellis (guitarra), Wilfred Middlebrooks (contrabaixo) e Gus Johnson (bateria). Foram estes os músicos que apresentou no Crescendo - em 62 actuaria com Paul Smith (piano), Stan Levey (bateria) e Middlebrooks.
"Se Ella é boa em estúdio, ela é melhor ainda à frente de uma plateia", descreve Lou Levy em declarações sobre os concertos de 1961 citadas no texto que acompanha a nova caixa. Levy recorda o ambiente vivido como próximo de uma jam session, descrevendo-o como "nada de muito formal". E lembra: "Tocava-se a abertura e entrávamos. Não precisávamos de um maestro. Era ir em frente e saborear o momento."
Granz estava junto ao palco, coordenando as gravações e pedindo canções. Percorriam-se alguns dos seus discos mais célebres, mas também canções de álbuns recentes e outras que brevemente gravaria em discos como Clap Your Hands Here Comes Charlie (1961), Rhythm Is My Business (1962) ou Ella Swings Gently With Nelson (1962). Marcas que fazem desta caixa um retrato da voz e obra de Ella naquele tempo.