domingo, janeiro 10, 2010

Ecos de culturas de outros tempos

Há poucos anos, em entrevista, Philip Glass respondeu-me que iria contornar o “fantasma” da nova sinfonia compondo, ao mesmo tempo, a décima… Ainda não entraram em cena, uma ou outra. Mas este início de ano assinala a edição da única das suas oito sinfonias que, até aqui, não tinha conhecido lançamento em disco. Trata-se da sétima, a que chamou Toltec, em homenagem à (mítica ou real, não se sabe ao certo) cultura tolteca, referência importante na história das civilizações pré-colombianas da América Central.

A sétima sinfonia de Philip Glass foi composta para assinalar o 60º aniversário de Leonard Saltkin, e foi por ele mesmo estreada no Kennedy Center, em Washington DC, em 2005, com a National Symphony Orchestra e o Master Chorale of Washington. Nesta obra Glass pretendeu homenagear um homem do conhecimento (musical) com uma sinfonia que evocasse uma tradição fundamental do conhecimento americano. Interessado há longos anos pelas culturas indígenas americanas, Glass definiu os três andamentos da Sinfonia Nº 7 de acordo com uma trindade sagrada tolteca, sublinhando sobretudo uma cultura que encontrou um equilíbrio no seu relacionamento com a natureza.

A sinfonia “tolteca” de Philip Glass é mais uma obra coral orquestral. Não tem dimensão da soberba Sinfonia Nº 5 (a sua melhor obra sinfónica) nem revela as marcas de inquietude de quem procura novos caminhos que se sentiu na mais recente Sinfonia Nº 8. Essencialmente meditativa, é uma obra todavia bem interessante, sobretudo na forma como procura um lirismo sem abdicar dos princípios que definem uma música que aceita a repetição como pulsão quase respiratória. É uma música que retrata uma memória desencantada, que evoca tempos remotos dos quais chegam apenas ecos de hábitos diferentes e, sobretudo, de uma noção de harmonia com o mundo natural que hoje não conhecemos… Mas termina com um remate grandioso e luminoso, num jogo de repetições que alterna módulos progressivamente mais intensos com silêncios. Como quem reflecte sobre o presente e acredita na mudança… Talvez num reencontro com outros hábitos. A estreia em disco desta Sinfonia Nº 7 coube, tal como recentemente aconteceu com a sexta e oitava, à Bruckner Orchester Linz, sob direcção de Dennis Russel Davies, que em conjunto se têm afirmado como um corpo de referência para a mais recente obra do compositor.

Sinfonias de Philip Glass
.
1993. Sinfonia Nº 1 – Low
(baseada no álbum Low, de David Bowie)

1994. Sinfonia Nº 2

1995. Sinfonia Nº 3

1996. Sinfonia Nº 4 – Heroes
(baseada no álbum Heroes, de David Bowie)

1999. Sinfonia Nº 5 – Chorale

2001. Sinfonia Nº 6 – Plutonian Ode
(baseada no poema homónimo de Allen Ginsberg)

2005. Sinfonia Nº 7 – Toltec

2005. Sinfonia Nº 8