A Metropolis Symphony não é caso único na obra de um compositor que por diversas vezes estabeleceu já pontes entre os espaços da música sinfónica e as grandes referências e figuras da cultura popular. Tem uma obra dedicada a Elvis Presley e o título da sua única ópera, Jackie O, não engana sobre quem trata… Michael Daugherty nasceu numa família musical no Iowa. A avó tocara piano para acompanhar filmes mudos; o pai era músico de jazz e a mãe uma cantora amadora. Exposto ao jazz e à cultura popular desde muito cedo, com vida profissional que o viu a tocar em bares e programas de televisão nos dias de juventude, o compositor não virou costas a estas vivências quando, mais tarde, a carreira o levou (e à sua música) a outras salas de concerto e a outros públicos. Chegou a Nova Iorque nos anos 70, estudou composição e, para ganhar dinheiro, trabalhou como porteiro no Carnegie Hall e como pianista para aulas de dança… A sua vida musical corria entre a elite “uptown” e os visionários da emergente cultura “downtown”. Conheceu nomes como Pierre Boulez, Morton Feldman, Milton Babbitt ou Frank Zappa. Completou estudos em Yale… Alargou horizontes. Além do trabalho como compositor, com extensa obra assinada em seu nome e temporadas já vividas como compositor residente de várias orquestras americanas, Michael Daugherty é também professor de música. Neste momento, em concreto, ensina composição na University of Michigan School of Music, Theatre & Dance.
domingo, janeiro 24, 2010
Dos 'comics' para uma sinfonia
Uma sinfonia dedicada ao… Super-Homem?... Porque não? Foi a proposta que cinco instituições lançaram há alguns anos ao compositor norte-americano Michael Daugherty (n. 1954), num trabalho que se prolongou entre 1988 e 1993, a cada ano sendo estreado um andamento da obra que, só depois, se deu a conhecer no seu todo, estreada na sua totalidade no Carnegie Hall, em Nova Iorque, em 1994. Assinalando os 50 anos de um dos mais reconhecidos heróis da história dos comics e uma figura destacada na cultura popular norte-americana do século XX, a Metropolis Symphony, que surge agora numa terceira gravação em disco, pela Nashville Symphony, dirigida por Giancarlo Guerrero (ed. Naxos), é uma celebração, como o autor descreve, dos “paradoxos e ambiguidades da cultura popular americana”. Ao mesmo tempo esta música surge do reflexo de uma relação pessoal do próprio compositor com as histórias aos quadradinhos que lia nos anos 50 e 60, cada andamento representando “uma resposta musical ao mito do Super-Homem”. O disco junta ainda à sinfonia a peça de 2007 Deux Ex-Machina, uma obra para piano (com Terrence Wilson como solista) e orquestra.