Jacques Demy é um fascinante exemplo de um autor que, sem nunca abandonar muitas inspirações de raiz tradicional (o género musical), se manteve como um notável símbolo de vanguarda. Estes apontamentos referem-se à recente edição de uma caixa de DVD dedicada a Demy (destacando a longa-metragem Jacquôt de Nantes, de Agnès Varda), tendo como base textos publicados no Diário de Notícias (28 de Dezembro).
Ao contrário de Jean-Luc Godard ou François Truffaut, Jacques Demy não estava devidamente representado no mercado do DVD. Esta edição inclui três das suas longas-metragens (Os Chapéus de Chuva de Cherburgo, As Donzelas de Rochefort e A Princesa Pele de Burro) e uma outra de Agnès Varda: Jacquôt de Nantes (1991), memória ficcionada da vida e obra de Demy. De Varda, surgem também dois documentários: As Donzelas Fazem 25 Anos (1993), evocação da rodagem de As Donzelas de Rochefort, e o retrato biográfico O Universo de Jacques Demy (1995); há ainda um “making of” dedicado a A Princesa Pele de Burro.
Ao contrário de Jean-Luc Godard ou François Truffaut, Jacques Demy não estava devidamente representado no mercado do DVD. Esta edição inclui três das suas longas-metragens (Os Chapéus de Chuva de Cherburgo, As Donzelas de Rochefort e A Princesa Pele de Burro) e uma outra de Agnès Varda: Jacquôt de Nantes (1991), memória ficcionada da vida e obra de Demy. De Varda, surgem também dois documentários: As Donzelas Fazem 25 Anos (1993), evocação da rodagem de As Donzelas de Rochefort, e o retrato biográfico O Universo de Jacques Demy (1995); há ainda um “making of” dedicado a A Princesa Pele de Burro.
Uma das raridades da edição de DVD de Jacques Demy é o filme Jacquôt de Nantes (1991), de Agnès Varda, a cineasta de As Praias de Agnès que com ele foi casada de 1962 até à sua morte (Demy faleceu em 1990, vítima de sida, contava 59 anos). Jacquôt de Nantes situa-se a meio caminho entre a evocação documental e o artifício da ficção. A partir das memórias pessoais de Demy, com vários jovens actores a assumir o seu papel, revisitamos os tempos da infância e adolescência, vividos em Nantes, lembrando a paixão pelos teatros de marionetas, os primeiros filmes artesanais e a actividade de cineclubista; em contraponto, vemos algumas imagens caseiras, registadas por Varda, durante os meses finais de Demy.
Jacquôt de Nantes teve a primeira apresentação mundial no Festival de Cannes de 1991, extra-competição, e pode servir de notável exemplo de uma sofisticada lógica documental: trata-se de elaborar uma teia de memórias em que o desvio para a ficção não anula as componentes documentais, antes as sublinha na sua inevitável tensão entre "objectivo" e "subjectivo".