Charlotte Gainsbourg filmada por Lars von Trier — a mulher de Anticristo é uma emanação da natureza e das suas contradições, ou um ser insondável que não encaixa em nenhum cenário natural?
Raras vezes o cinema terá sido tão cru — e tão cruamente poético — a colocar em cena esse enigma, e tanto mais quanto o faz a partir da perplexidade de um olhar masculino (Willem Dafoe) instalado na ilusão de repor alguma ordem na sua violência interior. Anticristo não é um filme realista, mas tem a intensidade de um realismo alheio à facilidade de qualquer naturalismo televisivo; não é uma narrativa fantástica, mas move-se como uma fábula metódica, dir-se-ia racional, sobre a ilusão da felicidade. Se quisermos ficar pelo lugar-comum destes tempos cansados, diremos que é um filme "polémico". Se tivermos energia para arriscar um pouco, talvez possamos dizer que é um filme capaz de desafiar os limites ontológicos do próprio cinema — e, desse modo, as crenças primitivas do espectador.
Raras vezes o cinema terá sido tão cru — e tão cruamente poético — a colocar em cena esse enigma, e tanto mais quanto o faz a partir da perplexidade de um olhar masculino (Willem Dafoe) instalado na ilusão de repor alguma ordem na sua violência interior. Anticristo não é um filme realista, mas tem a intensidade de um realismo alheio à facilidade de qualquer naturalismo televisivo; não é uma narrativa fantástica, mas move-se como uma fábula metódica, dir-se-ia racional, sobre a ilusão da felicidade. Se quisermos ficar pelo lugar-comum destes tempos cansados, diremos que é um filme "polémico". Se tivermos energia para arriscar um pouco, talvez possamos dizer que é um filme capaz de desafiar os limites ontológicos do próprio cinema — e, desse modo, as crenças primitivas do espectador.
>>> Site oficial de Anticristo.
>>> Lars von Trier: entrevista no New York Magazine.
>>> Sobre Anticristo: Philip French, The Guardian.