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O filme Coco Avant Chanel, de Anne Fontaine, com Audrey Tautou, parece ter gerado um novo interesse (cinematográfico) pela lendária figura da moda. Daí que sejamos tentados a ver em Coco Chanel & Igor Stravinsky, de Jan Kounen, filme oficial de encerramento do Festival de Cannes (no passado mês de Maio), uma espécie de sequela mais ou menos programada. Em boa verdade, trata-se de uma coincidência, já que estamos perante produções concretizadas praticamente em simultâneo. Em França, para evitar uma exibição demasiado próxima de ambos os títulos, o lançamento do filme de Kounen (que, em princípio, deveria acontecer logo depois de Cannes) foi mesmo transferido para Janeiro de 2010.
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O maior mérito do filme de Kounen (nome do cinema francês nascido em 1964, em Utrecht, Holanda) decorre do seu laborioso intimismo. Assim, em vez de procurar “provas” para sustentar a sua ficção, Coco Chanel & Igor Stravinsky prefere assumir o simples facto de qualquer retrato psicológico envolver um misto de especulação emocional e pesquisa estética. Fundamental é, por isso, a delicada direcção de actores: Anna Mouglalis compõe uma Chanel secreta e apaixonada, mas também símbolo inevitável de uma nova “condição feminina”, enquanto Mads Mikkelsen (actor dinamarquês que assumiu o papel do vilão com que James Bond se confrontava no Casino Royale de 2006) nos expõe um Stravinsky em que coexistem a vertigem da paixão e o tenaz racionalismo da criação artística. Só por eles, vale a pena descobrir o filme.