Eis uma dupla de peculiar energia criativa: Agnès Jaoui (actriz, argumentista e realizadora) e Jean-Pierre Bacri (actor e argumentista) criaram um estilo inconfundível no interior da actual produção francesa, agora prolongado através do filme Deixa Chover (Parlez-moi de la Pluie) — este texto foi publicado no Diário de Notícias (24 de Dezembro), com o título 'O quotidiano francês revisto por Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri'.
Dizem as biografias de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri que se conheceram durante os ensaios de uma peça de Harold Pinter, em 1987. Na altura, ela era uma jovem promessa, ainda sem expressão no mundo do cinema; ele tinha já uma carreira importante em personagens dramáticas de filmes mais ou menos policiais (por exemplo: Subway, dirigido por Luc Besson em 1986). A partir daí, a sua vida pessoal e profissional nunca mais deixou de estar ligada.
Curiosamente, e embora sejam ambos conhecidos como nomes de referência do panorama de actores do cinema francês, a sua afirmação passou (e continua a passar) pelo seu trabalho como argumentistas. O ponto de viragem ocorreu quando assinaram a adaptação da peça Intimate Exchanges, do inglês Alan Ayckbourn: o resultado (esplendoroso) chamou-se Smoking/No Smoking, tem realização do mestre Alain Resnais e valeu-lhes o César de melhor argumento referente à produção de 1993.
Em 1996, novo argumento, para Un Air de Famille (em colaboração com o realizador Cédric Klapisch), e novo César. Em 1997, a dupla reencontrou-se com Resnais, escrevendo É Sempre a Mesma Cantiga, desta vez com Jaoui e Bacri a integrarem o elenco. E os Césares continuaram a acumular-se: melhor argumento e ainda dois prémios de representação (melhor actriz secundária e melhor actor secundário).
Parece um conto de fadas. E talvez seja. Isto porque, no ano 2000, Jaoui e Bacri fariam a síntese mais feliz da sua colaboração: O Gosto dos Outros, retrato terno e desencantado do quotidiano familiar e estreia de Jaoui como realizadora. Os Césares voltaram a estar atentos. O filme conseguiu nada mais nada menos que nove nomeações, arrebatando quatro prémios: argumento (Jaoui/Bacri), actor secundário (Gérard Lanvin), actriz secundária (Anne Alvaro) e melhor filme francês do ano. A internacionalização do seu trabalho valeu mesmo a O Gosto dos Outros uma nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro (nesse ano ganho por Taiwan, com O Tigre e o Dragão).
Deixa Chover, agora lançado nas salas portuguesas, é a terceira realização de Jaoui, depois de O Gosto dos Outros e Olhem para Mim (prémio de melhor argumento no Festival de Cannes de 2004). A dupla volta a propor uma história em que os equilíbrios e desequilíbrios das relações masculino/feminino podem ter tanto de cruel como de irónico. Desta vez, tudo se desenvolve a partir da relação, nada simples, entre uma mulher (Jaoui) que concorre a um cargo político e um “relações públicas” não muito brilhante (Bacri) que tem por missão elaborar um video sobre a candidata.
Se este tipo de histórias continua a seduzir os públicos mais diversos, isso resulta do facto de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri conseguirem um balanço feliz entre as singularidades da vida francesa e o apelo universal dos seus temas. Por aqui passam, afinal, as questões relacionadas com as tensões entre carreira pública e vida privada, os conflitos de gerações, enfim, a corrupção moral e a solidariedade humana. Por vezes ameaçando a tragédia. Muitas vezes em tom de contagiante humor.
Dizem as biografias de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri que se conheceram durante os ensaios de uma peça de Harold Pinter, em 1987. Na altura, ela era uma jovem promessa, ainda sem expressão no mundo do cinema; ele tinha já uma carreira importante em personagens dramáticas de filmes mais ou menos policiais (por exemplo: Subway, dirigido por Luc Besson em 1986). A partir daí, a sua vida pessoal e profissional nunca mais deixou de estar ligada.
Curiosamente, e embora sejam ambos conhecidos como nomes de referência do panorama de actores do cinema francês, a sua afirmação passou (e continua a passar) pelo seu trabalho como argumentistas. O ponto de viragem ocorreu quando assinaram a adaptação da peça Intimate Exchanges, do inglês Alan Ayckbourn: o resultado (esplendoroso) chamou-se Smoking/No Smoking, tem realização do mestre Alain Resnais e valeu-lhes o César de melhor argumento referente à produção de 1993.
Em 1996, novo argumento, para Un Air de Famille (em colaboração com o realizador Cédric Klapisch), e novo César. Em 1997, a dupla reencontrou-se com Resnais, escrevendo É Sempre a Mesma Cantiga, desta vez com Jaoui e Bacri a integrarem o elenco. E os Césares continuaram a acumular-se: melhor argumento e ainda dois prémios de representação (melhor actriz secundária e melhor actor secundário).
Parece um conto de fadas. E talvez seja. Isto porque, no ano 2000, Jaoui e Bacri fariam a síntese mais feliz da sua colaboração: O Gosto dos Outros, retrato terno e desencantado do quotidiano familiar e estreia de Jaoui como realizadora. Os Césares voltaram a estar atentos. O filme conseguiu nada mais nada menos que nove nomeações, arrebatando quatro prémios: argumento (Jaoui/Bacri), actor secundário (Gérard Lanvin), actriz secundária (Anne Alvaro) e melhor filme francês do ano. A internacionalização do seu trabalho valeu mesmo a O Gosto dos Outros uma nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro (nesse ano ganho por Taiwan, com O Tigre e o Dragão).
Deixa Chover, agora lançado nas salas portuguesas, é a terceira realização de Jaoui, depois de O Gosto dos Outros e Olhem para Mim (prémio de melhor argumento no Festival de Cannes de 2004). A dupla volta a propor uma história em que os equilíbrios e desequilíbrios das relações masculino/feminino podem ter tanto de cruel como de irónico. Desta vez, tudo se desenvolve a partir da relação, nada simples, entre uma mulher (Jaoui) que concorre a um cargo político e um “relações públicas” não muito brilhante (Bacri) que tem por missão elaborar um video sobre a candidata.
Se este tipo de histórias continua a seduzir os públicos mais diversos, isso resulta do facto de Agnès Jaoui e Jean-Pierre Bacri conseguirem um balanço feliz entre as singularidades da vida francesa e o apelo universal dos seus temas. Por aqui passam, afinal, as questões relacionadas com as tensões entre carreira pública e vida privada, os conflitos de gerações, enfim, a corrupção moral e a solidariedade humana. Por vezes ameaçando a tragédia. Muitas vezes em tom de contagiante humor.