Este é o registo de uma conversa com o realizador Jan Kounen que serviu de base à entrevista publicada no Diário de Notícias (3 de Dezembro), com o título 'Chanel e Stravinsky possuem uma dimensão mitológica'. [1]
Será que existe um modelo de “cinema europeu” que seja possível definir de forma mais ou menos coerente?
A força da Europa começa nas próprias diferenças culturais que existem no seu interior. É a partir dessa diversidade que é preciso encontrar temas que cheguem ao grande público. Isto sem prejuízo de reconhecer que há “grandes máquinas” de produção (por exemplo, os filmes de "Astérix") que funcionam muito bem a nível europeu. Além do mais, uma marca europeia importante é uma certa liberdade do cineasta, com a ambição que isso implica, e uma menor pressão industrial sobre a própria fabricação do filme. Houve uma época em que, para se fazer um certo tipo de filmes, era preciso ir para os EUA: veja-se o caso de Ridley Scott. Hoje em dia, se um cineasta europeu quer fazer um filme mais “visual”, talvez acabe por decidir ficar na Europa: talvez tenha menos dinheiro, mas sentir-se-á mais livre.
Essa liberdade tem também a ver com a vontade de não se deixar limitar pelas regras da televisão?
Exactamente. Mas também aí as coisas não são lineares. Porque se é verdade que, na Europa, os produtos mais convencionais são normalmente associados à televisão, nos EUA está a acontecer o contrário: há um grande impulso criativo na televisão, por vezes mais que nos filmes.
Em todo o caso, é verdade também que, para muitos filmes, o financiamento televisivo é essencial.
Sem dúvida.
Como foi no caso de Coco Chanel & Igor Stravinsky?
Tivemos o Canal Plus, mas não há outras televisões francesas. Em filmes anteriores, já tive o apoio do canal Arte, mas nesse caso é como se já não fosse televisão, de tal modo favorece o risco criativo dos cineastas.
Que filmes mais o impressionaram recentemente?
Começando pelos franceses, Um Profeta, de Jacques Audiard, parece-me um filme magistral [estreia portuguesa: 31 de Dezembro]. Distrito 9 pareceu-me brilhante, divertido, cheio de níveis de leitura. Vi também 30 minutos de Avatar, de James Cameron [estreia portuguesa: 17 de Dezembro]: daqui a alguns meses, o cinema passará a ser outra coisa.
Está, portanto, optimista em relação às três dimensões?
Não é uma questão de optimismo: estamos mesmo perante uma revolução. Penso que o 3-D vai mudar tudo: daqui a uns dez anos, vamos pensar se faz sentido fazer um filme a duas dimensões, mesmo que seja um drama social passado no interior de um apartamento. Já se tinha evoluído muito na “espacialização” do som, de modo a envolver cada vez mais o espectador; agora, creio que a imagem vai harmonizar-se com os progressos do som. Vamos estar, realmente, no interior de uma história.
Será que existe um modelo de “cinema europeu” que seja possível definir de forma mais ou menos coerente?
A força da Europa começa nas próprias diferenças culturais que existem no seu interior. É a partir dessa diversidade que é preciso encontrar temas que cheguem ao grande público. Isto sem prejuízo de reconhecer que há “grandes máquinas” de produção (por exemplo, os filmes de "Astérix") que funcionam muito bem a nível europeu. Além do mais, uma marca europeia importante é uma certa liberdade do cineasta, com a ambição que isso implica, e uma menor pressão industrial sobre a própria fabricação do filme. Houve uma época em que, para se fazer um certo tipo de filmes, era preciso ir para os EUA: veja-se o caso de Ridley Scott. Hoje em dia, se um cineasta europeu quer fazer um filme mais “visual”, talvez acabe por decidir ficar na Europa: talvez tenha menos dinheiro, mas sentir-se-á mais livre.
Essa liberdade tem também a ver com a vontade de não se deixar limitar pelas regras da televisão?
Exactamente. Mas também aí as coisas não são lineares. Porque se é verdade que, na Europa, os produtos mais convencionais são normalmente associados à televisão, nos EUA está a acontecer o contrário: há um grande impulso criativo na televisão, por vezes mais que nos filmes.
Em todo o caso, é verdade também que, para muitos filmes, o financiamento televisivo é essencial.
Sem dúvida.
Como foi no caso de Coco Chanel & Igor Stravinsky?
Tivemos o Canal Plus, mas não há outras televisões francesas. Em filmes anteriores, já tive o apoio do canal Arte, mas nesse caso é como se já não fosse televisão, de tal modo favorece o risco criativo dos cineastas.
Que filmes mais o impressionaram recentemente?
Começando pelos franceses, Um Profeta, de Jacques Audiard, parece-me um filme magistral [estreia portuguesa: 31 de Dezembro]. Distrito 9 pareceu-me brilhante, divertido, cheio de níveis de leitura. Vi também 30 minutos de Avatar, de James Cameron [estreia portuguesa: 17 de Dezembro]: daqui a alguns meses, o cinema passará a ser outra coisa.
Está, portanto, optimista em relação às três dimensões?
Não é uma questão de optimismo: estamos mesmo perante uma revolução. Penso que o 3-D vai mudar tudo: daqui a uns dez anos, vamos pensar se faz sentido fazer um filme a duas dimensões, mesmo que seja um drama social passado no interior de um apartamento. Já se tinha evoluído muito na “espacialização” do som, de modo a envolver cada vez mais o espectador; agora, creio que a imagem vai harmonizar-se com os progressos do som. Vamos estar, realmente, no interior de uma história.