O filme Depois das Aulas confronta-nos com a urgência de repensar a escola e os seus protagonistas — este texto foi publicado no Diário de Notícias (10 de Dezembro), com o título 'Imagens, solidão e medo'.
Talvez seja inevitável (eventualmente útil) encarar o filme Depois das Aulas, de Antonio Campos, a partir de uma perspectiva eminentemente portuguesa. Vivemos, de facto, num país em que as questões da educação e, em particular, os problemas específicos dos professores têm favorecido acesos confrontos políticos. Ora, mesmo não recusando a sua gravidade (e a legitimidade reivindicativa dos seus protagonistas), importa reconhecer que persiste em Portugal um chocante défice de reflexão e pensamento sobre os próprios estudantes. Há uma indiferença generalizada (que, em maior ou menor grau, passa pela classe dos professores) em relação aos modos de apropriação dos estudantes pelas ficções audiovisuais. Afinal de contas, assistimos ao triunfo da miséria narrativa e da inanidade mental de Morangos com Açúcar e... ninguém diz nada!
Na sua visão fulgurante (e, à sua maneira, muito pedagógica), Depois das Aulas é um filme que proclama uma verdade que a nossa cultura predominantemente televisiva tem dificuldade em enfrentar. A saber: nenhuma imagem (como nenhum som) é inocente, no sentido em que a sua difusão nunca é passiva ou neutra. Quando um telejornal trata com a mesma evidência uma cimeira sobre o aquecimento global ou um fait-divers numa aldeia esquecida do fim do mundo, isso traduz uma visão do mundo, quer dizer, implica formas de responsabilidade.
Aquilo que Antonio Campos filma é a dolorosa solidão dos estudantes com as imagens (e sons) da Internet, em particular do YouTube. Não se trata de dividi-las em “boas” e “más”, mas sim de observar como a sua generalização realista pode favorecer uma trágica interrogação: afinal de contas, o que é (e onde está) a realidade? Daí que a solidão e o medo dos protagonistas de Depois das Aulas seja tudo menos uma anedota geracional. Vivemos com eles. Vivemos como eles.
Talvez seja inevitável (eventualmente útil) encarar o filme Depois das Aulas, de Antonio Campos, a partir de uma perspectiva eminentemente portuguesa. Vivemos, de facto, num país em que as questões da educação e, em particular, os problemas específicos dos professores têm favorecido acesos confrontos políticos. Ora, mesmo não recusando a sua gravidade (e a legitimidade reivindicativa dos seus protagonistas), importa reconhecer que persiste em Portugal um chocante défice de reflexão e pensamento sobre os próprios estudantes. Há uma indiferença generalizada (que, em maior ou menor grau, passa pela classe dos professores) em relação aos modos de apropriação dos estudantes pelas ficções audiovisuais. Afinal de contas, assistimos ao triunfo da miséria narrativa e da inanidade mental de Morangos com Açúcar e... ninguém diz nada!
Na sua visão fulgurante (e, à sua maneira, muito pedagógica), Depois das Aulas é um filme que proclama uma verdade que a nossa cultura predominantemente televisiva tem dificuldade em enfrentar. A saber: nenhuma imagem (como nenhum som) é inocente, no sentido em que a sua difusão nunca é passiva ou neutra. Quando um telejornal trata com a mesma evidência uma cimeira sobre o aquecimento global ou um fait-divers numa aldeia esquecida do fim do mundo, isso traduz uma visão do mundo, quer dizer, implica formas de responsabilidade.
Aquilo que Antonio Campos filma é a dolorosa solidão dos estudantes com as imagens (e sons) da Internet, em particular do YouTube. Não se trata de dividi-las em “boas” e “más”, mas sim de observar como a sua generalização realista pode favorecer uma trágica interrogação: afinal de contas, o que é (e onde está) a realidade? Daí que a solidão e o medo dos protagonistas de Depois das Aulas seja tudo menos uma anedota geracional. Vivemos com eles. Vivemos como eles.