É um dos acontecimentos cinematográficos do ano: Depois da Escola/Afterschool, um retrato muito íntimo de um grupo de estudantes e do seu imaginário dominado pela lógica do YouTube — esta entrevista com o realizador Antonio Campos foi publicada no Diário de Notícias (10 de Dezembro), com o título 'A Internet não se pode comparar com a projecção de um filme'.
Subitamente, um cineasta americano de nome português, Antonio Campos, surge com um filme fulgurante: Depois das Aulas, uma crónica muito crua sobre as relações dos jovens estudantes com a Internet e, em particular, com os pequenos filmes do YouTube. Gerado na área da produção independente, é também um exemplo de um cinema ligado às questões mais perturbantes da vida contemporânea.
As peripécias do argumento de Depois das Aulas são completamente inventadas ou têm a ver com algum tipo de experiência que, de alguma maneira, conhecesse?
É uma história inventada, tanto mais que eu próprio frequentei uma escola privada, não do tipo que aparece no filme. O ponto de partida surgiu quando andava no último ano do liceu, logo após o 11 de Setembro: teve que ver, primeiro, com o facto de o pai de um colega ter morrido nas Torres e, depois, com a morte do meu melhor amigo. De alguma maneira, a combinação dessas duas ocorrências levou-me à história do filme.
Como é que as suas personagens e, de um modo geral, os jovens que usam frequentemente a Internet e o YouTube respondem à pergunta: “Afinal, o que é a realidade?”
Essa é uma pergunta inevitavelmente armadilhada. O que é, afinal, uma relação verdadeira? O que é a verdadeira experiência das coisas? Creio que para esta geração não é fácil responder, não é fácil falar daquilo que realmente experimentam.
Nesse sentido, parece-lhe que o cinema nos pode ajudar a lidar com essas questões, de maneira diferente da Internet ou mesmo da televisão?
Sim, creio que o cinema continua a ser o meio mais forte para explorar ideias, emoções e relações humanas. A Internet é diferente: gera discussão, promove interacção (“deixe o seu comentário”) e, ao mesmo tempo, é tão grande que se faz um click, depois outro, depois outro... Digamos que lidamos com a Internet um pouco como com um canivete suíço, utilizando diferentes funções e ferramentas. Digerimos uma ou outra informação, mas somos rapidamente distraídos, impelidos para outra coisa. Não é, de modo nenhum, uma experiência que se possa comparar com o assistir à projecção de um filme. Isto sem esquecer que o cinema é caro de fazer.
Que reacções tem obtido, nomeadamente nos festivais internacionais por onde passou?
Creio que posso dizer que, de um modo geral, são reacções positivas. Em qualquer caso, as pessoas reagem sempre de forma muito contundente: há mesmo quem odeie o filme o que, a meu ver, não é necessariamente mau. Seja em Londres, Nova Iorque ou Gijón.
Que tipo de distribuição teve o filme no mercado americano?
Foi uma difusão de pequena escala, mas as reacções têm sido muito boas. Começamos em Nova Iorque, depois em cidades mais pequenas. Além do mais, temos explorado os circuitos de “video-on-demand”, permitindo que as pessoas possam alugar o filme para ver em casa, o que também tem corrido muito bem.
Sentiu-se de alguma maneira inspirado por outros filmes sobre estudantes adolescentes?
Senti-me mais inspirado por alguns filmes europeus cujo tema não é, necessariamente, a adolescência: filmes de Michael Haneke, Bruno Dumont ou, recuando um pouco, Bergman, Fassbinder, Chantal Akerman. E ainda Stanley Kubrick, que é americano, para mim uma referência fundamental.
Por vezes, na Europa, considera-se que o cinema independente americano é mais criativo que a produção dos grandes estúdios. Qual é a sua perspectiva?
Creio que há excepções, mas na maior parte dos casos é verdade. Paul Thomas Anderson, Quentin Tarantino são excepções. Mas não será que foi quase sempre assim?
Subitamente, um cineasta americano de nome português, Antonio Campos, surge com um filme fulgurante: Depois das Aulas, uma crónica muito crua sobre as relações dos jovens estudantes com a Internet e, em particular, com os pequenos filmes do YouTube. Gerado na área da produção independente, é também um exemplo de um cinema ligado às questões mais perturbantes da vida contemporânea.
As peripécias do argumento de Depois das Aulas são completamente inventadas ou têm a ver com algum tipo de experiência que, de alguma maneira, conhecesse?
É uma história inventada, tanto mais que eu próprio frequentei uma escola privada, não do tipo que aparece no filme. O ponto de partida surgiu quando andava no último ano do liceu, logo após o 11 de Setembro: teve que ver, primeiro, com o facto de o pai de um colega ter morrido nas Torres e, depois, com a morte do meu melhor amigo. De alguma maneira, a combinação dessas duas ocorrências levou-me à história do filme.
Como é que as suas personagens e, de um modo geral, os jovens que usam frequentemente a Internet e o YouTube respondem à pergunta: “Afinal, o que é a realidade?”
Essa é uma pergunta inevitavelmente armadilhada. O que é, afinal, uma relação verdadeira? O que é a verdadeira experiência das coisas? Creio que para esta geração não é fácil responder, não é fácil falar daquilo que realmente experimentam.
Nesse sentido, parece-lhe que o cinema nos pode ajudar a lidar com essas questões, de maneira diferente da Internet ou mesmo da televisão?
Sim, creio que o cinema continua a ser o meio mais forte para explorar ideias, emoções e relações humanas. A Internet é diferente: gera discussão, promove interacção (“deixe o seu comentário”) e, ao mesmo tempo, é tão grande que se faz um click, depois outro, depois outro... Digamos que lidamos com a Internet um pouco como com um canivete suíço, utilizando diferentes funções e ferramentas. Digerimos uma ou outra informação, mas somos rapidamente distraídos, impelidos para outra coisa. Não é, de modo nenhum, uma experiência que se possa comparar com o assistir à projecção de um filme. Isto sem esquecer que o cinema é caro de fazer.
Que reacções tem obtido, nomeadamente nos festivais internacionais por onde passou?
Creio que posso dizer que, de um modo geral, são reacções positivas. Em qualquer caso, as pessoas reagem sempre de forma muito contundente: há mesmo quem odeie o filme o que, a meu ver, não é necessariamente mau. Seja em Londres, Nova Iorque ou Gijón.
Que tipo de distribuição teve o filme no mercado americano?
Foi uma difusão de pequena escala, mas as reacções têm sido muito boas. Começamos em Nova Iorque, depois em cidades mais pequenas. Além do mais, temos explorado os circuitos de “video-on-demand”, permitindo que as pessoas possam alugar o filme para ver em casa, o que também tem corrido muito bem.
Sentiu-se de alguma maneira inspirado por outros filmes sobre estudantes adolescentes?
Senti-me mais inspirado por alguns filmes europeus cujo tema não é, necessariamente, a adolescência: filmes de Michael Haneke, Bruno Dumont ou, recuando um pouco, Bergman, Fassbinder, Chantal Akerman. E ainda Stanley Kubrick, que é americano, para mim uma referência fundamental.
Por vezes, na Europa, considera-se que o cinema independente americano é mais criativo que a produção dos grandes estúdios. Qual é a sua perspectiva?
Creio que há excepções, mas na maior parte dos casos é verdade. Paul Thomas Anderson, Quentin Tarantino são excepções. Mas não será que foi quase sempre assim?