Jim Carrey dirigido por Robert Zemeckis, na personagem de Scrooge: humano ou digital? Humano e digital — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 de Novembro), com o título 'O novo paradigma digital'.
É bem provável que, daqui a algumas décadas, os espectadores de cinema olhem para Um Conto de Natal, de Robert Zemeckis, um pouco como agora contemplamos as proezas de Al Jolson em O Cantor de Jazz (1927). Dito de outro modo: há filmes que, apesar das suas imperfeições (ou precisamente por causa delas), rasgam novas paisagens para a expressão cinematográfica, nomeadamente através da integração de técnicas mais ou menos inovadoras. No caso de Jolson, celebrava-se o advento do som. Com Zemeckis, assistimos ao desenvolvimento exponencial do chamado motion capture (criação de figuras animadas a partir da filmagem prévia de actores), para mais acumulado com o relançamento das imagens a três dimensões.
Na trajectória do realizador, esta é uma experiência que confirma a sua crença nestes insólitos desenhos animados fabricados a partir de actores humanos. Mais insólito ainda é que sintamos a necessidade de acrescentar o adjectivo “humanos” para definir os “actores”... Já tinha sido assim em Polar Express (2004) e Beowulf (2007). Volta a ser assim com esta adaptação de Charles Dickens movida por uma irónica dialéctica: a de reinvestir um clássico da literatura do século XIX para celebrar a euforia tecnológica do século XXI.
Tal processo está longe de ser linear, quer em termos artísticos, quer enquanto estratégia comercial. Um Conto de Natal é mesmo um filme estruturalmente contraditório. Aqui está, afinal, um típico “produto” de Natal (para mais com chancela dos estúdios Disney) que, em boa verdade, no essencial, aposta numa ambiência de filme de terror para outras faixas etárias. Dir-se-ia que Hollywood quer encontrar um novo paradigma para o cinema digital, com o reforço emblemático do 3-D, mas sem saber que modelos recuperar ou inventar. Mérito de Zemeckis, sem dúvida: mesmo no interior das hesitações do sistema de produção, ele insiste em afirmar as potencialidades do cinema como arte de transfiguração de todas as formas do visível. E com um gosto peculiar pela convivência com o invisível.
É bem provável que, daqui a algumas décadas, os espectadores de cinema olhem para Um Conto de Natal, de Robert Zemeckis, um pouco como agora contemplamos as proezas de Al Jolson em O Cantor de Jazz (1927). Dito de outro modo: há filmes que, apesar das suas imperfeições (ou precisamente por causa delas), rasgam novas paisagens para a expressão cinematográfica, nomeadamente através da integração de técnicas mais ou menos inovadoras. No caso de Jolson, celebrava-se o advento do som. Com Zemeckis, assistimos ao desenvolvimento exponencial do chamado motion capture (criação de figuras animadas a partir da filmagem prévia de actores), para mais acumulado com o relançamento das imagens a três dimensões.
Na trajectória do realizador, esta é uma experiência que confirma a sua crença nestes insólitos desenhos animados fabricados a partir de actores humanos. Mais insólito ainda é que sintamos a necessidade de acrescentar o adjectivo “humanos” para definir os “actores”... Já tinha sido assim em Polar Express (2004) e Beowulf (2007). Volta a ser assim com esta adaptação de Charles Dickens movida por uma irónica dialéctica: a de reinvestir um clássico da literatura do século XIX para celebrar a euforia tecnológica do século XXI.
Tal processo está longe de ser linear, quer em termos artísticos, quer enquanto estratégia comercial. Um Conto de Natal é mesmo um filme estruturalmente contraditório. Aqui está, afinal, um típico “produto” de Natal (para mais com chancela dos estúdios Disney) que, em boa verdade, no essencial, aposta numa ambiência de filme de terror para outras faixas etárias. Dir-se-ia que Hollywood quer encontrar um novo paradigma para o cinema digital, com o reforço emblemático do 3-D, mas sem saber que modelos recuperar ou inventar. Mérito de Zemeckis, sem dúvida: mesmo no interior das hesitações do sistema de produção, ele insiste em afirmar as potencialidades do cinema como arte de transfiguração de todas as formas do visível. E com um gosto peculiar pela convivência com o invisível.