Foi uma tarde para aplicar o “era uma vez” à música de Mendelssohn, dando a entender o seu poder narrativo. As escolhas de repertório foram assim absolutamente acertadas, em todas elas surgindo a presença de personagens, narrativas, memórias ou paisagens que, exemplificadas por Alexandre Delgado, deram tranquilo passaporte para uma audição diferente, esclarecida… Talvez alguns dos mais novos entre os espectadores presentes na sala não soubessem exactamente como descodificar o sentido de expressões como “discussões homéricas” ou “ipsis verbis”, mas ninguém levou a mal…
Joana Carneiro (que assinalava também naquela tarde o lançamento de um CD, com música de Tchaikovski, de que aqui falaremos brevemente) foi impressionante presença frente a uma magnífica Orquestra Gulbenkian. Da capacidade em caminhar entre os climas variados da abertura Sonho de Uma Noite de Verão à incrível sugestão de maresia na abertura As Hébridas: A Gruta de Fingal, terminando com viço e luminosidade (italiana, de facto) nos primeiro e quarto andamentos da Sinfonia Nº 4, uma casa cheia quase viajou sem sair do lugar. Pelo simples poder da música.