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Com o passar do tempo, a duplicidade (figurativa e simbólica) de Madonna tornou-se uma imagem de marca — lembremos o seu confronto com a morte no genial Bad Girl, de David Fincher (editado em The Video Collection 93:99). Pois bem, o momento fundador dessa duplicidade é este Borderline: de um lado (a cores), temos Madonna como personagem de rua, dançando, conversando, cruzando-se com o namorado; do outro (a preto e branco), como uma espécie de festiva ameaça existencial, vêmo-la enquanto figura do entertainment, fazendo pose numa sessão fotográfica em que ela é o único modelo. O lugar de cruzamento desses dois mundos está, inevitavelmente, nas imagens ou, talvez melhor, no país do imaginário: é a revista em cuja capa ela aparece, com a mão do namorado a pegar naquilo que, de facto, já não possui. Pequeno conto de ironia e crueldade que antecipa dois clássicos elaborados a partir de lógicas semelhantes: Like a Virgin e Material Girl, ambos também dirigidos por Mary Lambert.