quinta-feira, novembro 26, 2009

"Lua Nova": apenas o marketing

[cartaz francês]

"New Moon", fenómeno universal? Sem dúvida, mas apenas do marketing. O cinema surge meramente instrumentalizado e destruiu-se a energia do primeiro filme da saga — este texto foi publicado no Diário de Notícias (25 de Novembro), com o título 'Os vampiros do marketing'.

O cinema contemporâneo está a ser sugado pelo marketing: o exército do marketing impôs os seus valores de eficácia e lucro, secundarizando o cinema e a cinefilia (o amor do cinema, recorde-se). Um sintoma claro da ideologia do marketing é a alteração da própria nomenclatura do cinema: já não há “filmes”; passaram a chamar-se “produtos”. Lua Nova é apenas uma expressão grosseira dessa ideologia.
E atenção: não se trata de proclamar que se perdeu a “pureza” do cinema. Não somos ingénuos. Quando David O. Selznick produzia E Tudo o Vento Levou (1939) [cartaz], não estava propriamente à espera que o seu filme fosse uma curiosidade estética para meia dúzia de eleitos (continua, aliás, a ser o filme mais rentável de toda a história do cinema). Ou quando Alfred Hitchcock filmava Psico (1960), ele era o primeiro a saber que os seus perversos mecanismos de suspense iam arrastar multidões. Além do mais, sem ofensa, não creio que Steven Spielberg tenha feito E.T. (1982) por razões caritativas...
Acontece que, face a essas maravilhas (e muitas outras) geradas pela máquina industrial de Hollywood, Lua Nova faz figura de mediocridade fabricada por deslumbrados amadores. Já há algum tempo que não se ouviam diálogos tão banalmente “líricos”, ombreando com os disparates quotidianos das telenovelas. E se é verdade que o cinema americano ocupa a linha da frente da evolução técnica, nomeadamente nos efeitos especiais, as transformações dos lobisomens conseguem a proeza dúbia de imitar uma produção de série B sem dinheiro nem imaginação. Isto para não falarmos das redundâncias do argumento que se desenvolve à velocidade de uma tartaruga alucinada pela inclemência do sol.
O mais triste é que o primeiro título da saga, Crepúsculo (2008), de Catherine Hardwicke, era um belo exercício sobre aquilo que poderia ser um novo romantismo juvenil. Agora, o marketing despediu-a.