Carl Sagan (1934-1996) foi recentemente assunto de efeméride — se fosse vivo, teria completado 75 anos no dia 9 de Novembro. A sua herança científica é indissociável do seu trabalho televisivo e, mais concretamente, do seu esforço de popularização do labor das ciências — este texto foi publicado no Diário de Notícias (9 de Novembro), com o título 'Saber ou não saber, eis a questão'.
Numa frase muitas vezes citada, Carl Sagan resumiu o nosso paradoxo civilizacional: “Vivemos numa sociedade altamente dependente da ciência e da tecnologia e, no entanto, são poucos os que sabem alguma coisa sobre ciência e tecnologia.” É uma afirmação genuinamente política, já que nos remete para o valor de uso das formas de saber. Entenda-se: o saber não vale por si, vale sempre através dos circuitos da sua difusão.
Não admira que Sagan, face à televisão, tenha sido um crente. Mesmo nas conotações religiosas que a palavra “crente” possa arrastar. Para ele, o pequeno ecrã poderia ser um instrumento vital de difusão do saber e, mais do que isso, de superação das barreiras entre os “especialistas” e a população em geral.
Treze anos passados sobre a sua morte, teremos que reconhecer que a crença de Sagan não tem tido vida fácil, de tal modo a televisão se foi deixando submeter à pornografia invasora do Big Brother e outros formatos mais ou menos ligados à “reality TV”. O certo é que a sua série Cosmos (cuja primeira difusão ocorreu na PBS, em finais de 1980) permanece como um modelo exemplar daquilo que é um entendimento dialéctico do espaço televisivo: é possível falar de tudo, sem simplificar o saber e também sem ser paternalista em relação ao espectador.
Nesta perspectiva, a obra de Sagan pode ser colocada a par do trabalho de personalidades como o italiano Roberto Rossellini (1906-1977) e o americano Leonard Bernstein (1918-1990): o primeiro no cinema, o segundo na música, ambos acreditaram que a televisão podia contribuir para uma superação inteligente da oposição maniqueísta entre “alta” e “baixa” cultura. Não é por acaso que, hoje em dia, a sua herança é tão pouco assumida pela maioria das televisões. Em boa verdade, não é seguro que essas televisões mereçam tal herança.
Numa frase muitas vezes citada, Carl Sagan resumiu o nosso paradoxo civilizacional: “Vivemos numa sociedade altamente dependente da ciência e da tecnologia e, no entanto, são poucos os que sabem alguma coisa sobre ciência e tecnologia.” É uma afirmação genuinamente política, já que nos remete para o valor de uso das formas de saber. Entenda-se: o saber não vale por si, vale sempre através dos circuitos da sua difusão.
Não admira que Sagan, face à televisão, tenha sido um crente. Mesmo nas conotações religiosas que a palavra “crente” possa arrastar. Para ele, o pequeno ecrã poderia ser um instrumento vital de difusão do saber e, mais do que isso, de superação das barreiras entre os “especialistas” e a população em geral.
Treze anos passados sobre a sua morte, teremos que reconhecer que a crença de Sagan não tem tido vida fácil, de tal modo a televisão se foi deixando submeter à pornografia invasora do Big Brother e outros formatos mais ou menos ligados à “reality TV”. O certo é que a sua série Cosmos (cuja primeira difusão ocorreu na PBS, em finais de 1980) permanece como um modelo exemplar daquilo que é um entendimento dialéctico do espaço televisivo: é possível falar de tudo, sem simplificar o saber e também sem ser paternalista em relação ao espectador.
Nesta perspectiva, a obra de Sagan pode ser colocada a par do trabalho de personalidades como o italiano Roberto Rossellini (1906-1977) e o americano Leonard Bernstein (1918-1990): o primeiro no cinema, o segundo na música, ambos acreditaram que a televisão podia contribuir para uma superação inteligente da oposição maniqueísta entre “alta” e “baixa” cultura. Não é por acaso que, hoje em dia, a sua herança é tão pouco assumida pela maioria das televisões. Em boa verdade, não é seguro que essas televisões mereçam tal herança.