O que sente quando entra num palco para tocar obras que compôs há 40 anos?
Bom, em primeiro lugar sinto-me nervoso... (risos). Depois tento concentrar-me nas obras que tenho de tocar. E tento tocá-la bem. É sempre um desafio. Há sempre instantes em cada peça onde podemos estragar a performance. Ou seja, penso nas realidades bem práticas da actuação. As peças ainda significam o mesmo para mim. O que mudou com o tempo foi o número de repetições. O número de repetições em algumas das minhas primeiras obras é flexível. Não se pode tocar Clapping Music num minuto, mas não se pode tocar também em dez minutos. O número de repetições mudou. E aquele momento em que podemos avançar chega mais cedo que o que fazíamos nos anos 70... Não sei porquê... Na altura estas obras eram uma coisa nova, que nunca tinha sido ouvida antes, mas isso não justifica tudo. Há uma nova mentalidade e uma realidade prática diferente hoje em dia...
Como mudou o seu público. Começou por tocar em galerias de arte e espaços dedicados às artes de vanguarda… Hoje vemos a sua música em programas nas grandes salas do mundo inteiro...
O que mudou mais foi mesmo o facto de haver, por ano, cada vez mais performances da minha música nas quais não estou directamente envolvido. Por cada duzentas performances da minha música talvez esteja envolvido em cerca de apenas dez. No máximo. Esta é, de resto, a única digressão deste ano em que estou a tocar, e envolve apenas três concertos. E o meu ensemble só se junta hoje em ocasiões muito especiais, como recentemente no Lincoln Centre, onde tocámos o Music For 18 Musicians. Viajo muito, mas como convidado de outros ensembles, muitas vezes orientando-os sobre como devem tocar, se mais rápido se mais lento. Este modelo é melhor para mim... Actuar com os Bang On A Can é, portanto, quase como estar a recordar o que estar em palco era em tempos para mim... Mas de outra forma. Não são o meu ensemble. Por isso, se alguém adoece não tenho de me preocupar com isso...
Sente que há hoje outra atenção e até mesmo outra relação com a sua música?
É gratificante ver há músicos novos que entram na minha musica rapidamente e de uma forma muito intuitiva. Creio que em 1928, quando Bartók apresentou o seu quarteto de cordas, houve músicos que disseram que lhe perguntavam se ele esperava que eles tocassem aquela música... Hoje não se trabalha em quartetos de cordas sem tocar Bartók! E achei isso intrigante. Por isso, durante algum tempo, sempre que tinha sessões de perguntas e respostas com estudantes, perguntava-lhes que idade tinham quando, pela primeira vez, ouviram ou tocaram uma peça de Bartók... E respondiam... Dez anos, doze anos... Por aí... Quer isso dizer que aquela música é hoje como a mobília da sala. Foi sendo tocada, teve sucessivas gravações... Deixou de ser um problema... De certa maneira isso acabou também por acontecer com a minha música. E isso é mesmo gratificante.
Trabalhar com fitas e loops, com electrónicas… No fundo estas técnicas e ferramentas também passaram a fazer parte da mobília da casa…
Há uns anos, em Londres, em, 1992 ou 93, estava a dar uma entrevista para uma daquelas revistas especializadas em teclados, essencialmente virada para o mundo da música pop. E perguntaram-me o que é que eu achava da música dos The Orb... Os The Orb?... Não sabia quem eram... Peguei depois num disco deles, levei-o para casa e ouvi o Little Fluffy Clouds, onde usam cerca de 30 segundos do Electric Counterpoint. E disse para mim: Wow! Esta gente não só gosta da minha música como até a leva para a música deles! Mas não os processei!
Reich Remixed, o disco de remisturas de 1999, sublinhou mais ainda essa relação com uma nova geração de músicos…
Em 1996 estava no Japão com o meu grupo e um elemento da Nonesuch Records disse-me que eu devia ter um disco de remisturas... Eu sabia, pelo que estava acontecer, o que ele estava a sugerir... E disse que o escritório em Nova Iorque saberia quem deveria ser contactado para o fazer... Eu não conhecia nenhum daqueles nomes, mas todos eles tinham uma atenção especial para com aquelas peças mais antigas. Conheciam-nas bem. E não eram sequer nascidos quando as compus! Eu não os conhecia, mas depois tomei contacto com alguns deles durante o processo de promoção do disco. Conheci o DJ Spooky, os Coldcut e mais alguns... E disse-lhes que estava mesmo satisfeito pelo que tinham feito. Eu faço música e gosto que as pessoas a ouçam. Se não a ouvem fico desapontado.
(continua na próxima semana)