quarta-feira, novembro 18, 2009

Em conversa: Martha Wainwright (3/3)

Terceira e última parte da versão integral de uma entrevista que serviu de base ao artigo publicado a 9 de Novembro no DN, com o título “Não sou uma actriz nem quero estar a recriar a Piaf”

O que lhe parece que alguém que contacte hoje pela primeira vez com a obra de Edith Piaf dela possa tirar?
Pode tirar o que quiser. Para mim abriu-me horizontes. A principio nem pensava que seria uma boa ideia fazer um disco de versões de canções de Edith Piaf…

Porquê?
Porque é uma voz famosa. E depois houve o filme... E toda a gente poderia pensar que estaria a saltar para um comboio em andamento... Mas depois mandaram-me mais de 200 canções. E apercebi-me da oeuvre... Com muitas canções incríveis que ninguém conhecia. E aí o meu interesse intensificou-se. A poesia naquelas canções é linda. E foi isso que me conduziu a este projecto: a escrita... Estou entretanto a pensar nas pessoas que não falam francês. E estou a preparar uma versão traduzida para inglês. Creio que será útil, porque há ali sentimentos que falam a uma plateia dos dias de hoje.

Vai apresentar este disco ao vivo?
Gostaria de apresentar este disco ao vivo e depois, no fim dos concertos, tocar umas canções minhas. Serão concertos diferentes, portanto. E escolherei umas salas diferentes. Estou a pensar numa digressão no próximo verão, em salas que a possam acolher e que eu possa pagar, porque gostava de poder levar os músicos comigo.

Levou anos a procurar escrita sua para se afirmar. Agora faz um disco de versões. Sentiu que precisava de ter discos seus editados antes para agora poder gravar canções de outros?
É um pouco isso, sim. Tinha de acabar o meu segundo disco antes de poder lançar este. Mas depois tive sorte, porque o consegui fazer depressa. O facto de ser gravado ao vivo ajudou, claro. Era o momento. Ou então nunca seria feito...

Que outras vozes a ajudaram a definir o seu caminho?
Bom, eu pareço-me às vezes os meus pais...

Isso é biologicamente explicável...
De facto... Mas houve outras pessoas. Pessoas que puseram muito de si mesmas nas canções que cantaram. Uma delas será Nina Simone, quando canta versões. Canta-as como se fossem suas... É poderoso...

Já houve reacções a este seu disco em França?
Eu própria estou com muita curiosidade para ver como reagem. Mas vamos atrasar a edição do disco por lá, porque vou ter um bebé dentro de dois meses... E aí vou precisar de tempo... Sei que a Piaf é muito importante para eles. O facto de eu não ser francesa “salva-me” um pouco... Não tenho a mesma visão nacional que teria se fosse francesa. Para os franceses ela é um ícone.