Depois de um desapontante Viagens no Scriptorium, de 2006, Paul Auster parece ter reencontrado o caminho certo. O anterior Man In The Dark (2008), publicado entre nós como Homem na Escuridão revelava não apenas ginástica narrativa como uma interessante reflexão, projectada numa fantasia para realidade alternativa, de uma noção de América dividida após a vitória eleitoral de George W. Bush. Agora, Invisible (Invisível na tradução local, já disponível), assinala um reencontro com vivências nova-iorquinas, num dos seus melhores romances.
A história tem um pé no presente, que serve contudo apenas de tempo de narração para factos que decorreram em 1967. O centro da acção é Nova Iorque, onde conhecemos um (então) jovem estudante que imagina para si mesmo um horizonte na poesia. Nesse mesmo 1967 conhece um invulgar casal estrangeiro… Ele propõe-lhe uma parceria de trabalho. Ela torna-se sua amante numa curta temporada… O triângulo terá contudo implicações profundas na evolução desse mesmo ano cheio de acontecimentos. Um ano que o mesmo protagonista tenta revisitar longos anos depois, num romance de carga auto-biográfica que tenta escrever ao ver aproximar-se um fim que sabe estar próximo. Um romance que, fragmentado, chega às mãos de um antigo colega na universidade, que toma as notas inacabadas como desafio… Um desafio que, além de terminar um texto incompleto, o leva a debater as fronteiras entre o real e a eventual ficção no texto que tem em mãos…
Com o sentido directo de quem tem uma história para contar, Paul Auster chama às suas palavras esta narrativa a dois tempos, parte contada como se da escrita do protagonista se tratasse. É o reencontro com a escrita vivencial de alguns dos seus melhores textos. E, apesar de passagens em Paris e numa ilha algures nas Caraíbas, um regresso a histórias de Nova Iorque.