Tempos difíceis para o cinema "high tech". A acumulação de meios vai a par de um triste empobrecimento dramático, humano e... cinematográfico — este texto foi publicado no Diário de Notícias (12 de Dezembro), com o título 'O apocalipse já não é o que era'.
Decididamente, está tudo em crise, até as catástrofes. Ou pelo menos os “filmes-catástrofe”. Veja-se o caso de Roland Emmerich. A sua receita: fazer superproduções centradas numa qualquer desgraça colectiva. Tempos houve em que, apesar de tudo, a sua incipiência dramática era compensada por algum humor: lembremos O Dia da Independência (1996), uma guerra com extraterrestres protagonizada por um Will Smith ainda não deslumbrado com a sua condição de estrela planetária. Depois, veio o desastroso Godzilla e ainda hoje nos espantamos como foi possível que tamanho desperdício cinematográfico tivesse honras de filme oficial de encerramento do Festival de Cannes de 1998. Mais recentemente, O Dia Depois da Amanhã (2004) era um primeiro aviso sobre as questões climatéricas... Agora, com 2012, Emmerich decide ir direito ao assunto: deixemo-nos de tretas e preparemo-nos para o apocalipse!
O problema é que também o apocalipse anda pelas ruas da amargura. Pensamos nos cinco minutos de Charlton Heston a subir o Monte Sinai, em Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. DeMille, e há neles mais emoção, espanto e inquietação do que nas intermináveis duas horas e meia de 2012. Dirão os mais cínicos que 2012 é um filme feito para quem não sabe quem é Charlton Heston e que, provavelmente, confunde “DeMille” com o nome de um programa para o seu telemóvel de quinta geração... Tanto pior para eles, digo eu. Mas não é por menosprezo geracional. É apenas porque filmes como 2012, mesmo com todos os talentos técnicos e artísticos que convocam, estão a reduzir o conceito de espectáculo a uma imitação banal dos mais banais videojogos. Uma imagem do deserto filmado por David Lean, em Lawrence da Arábia (1962), tem mais cinema e mais vibração humana que as intermináveis explosões de 2012. Desculpe, você disse David Lean?
Decididamente, está tudo em crise, até as catástrofes. Ou pelo menos os “filmes-catástrofe”. Veja-se o caso de Roland Emmerich. A sua receita: fazer superproduções centradas numa qualquer desgraça colectiva. Tempos houve em que, apesar de tudo, a sua incipiência dramática era compensada por algum humor: lembremos O Dia da Independência (1996), uma guerra com extraterrestres protagonizada por um Will Smith ainda não deslumbrado com a sua condição de estrela planetária. Depois, veio o desastroso Godzilla e ainda hoje nos espantamos como foi possível que tamanho desperdício cinematográfico tivesse honras de filme oficial de encerramento do Festival de Cannes de 1998. Mais recentemente, O Dia Depois da Amanhã (2004) era um primeiro aviso sobre as questões climatéricas... Agora, com 2012, Emmerich decide ir direito ao assunto: deixemo-nos de tretas e preparemo-nos para o apocalipse!
O problema é que também o apocalipse anda pelas ruas da amargura. Pensamos nos cinco minutos de Charlton Heston a subir o Monte Sinai, em Os Dez Mandamentos (1956), de Cecil B. DeMille, e há neles mais emoção, espanto e inquietação do que nas intermináveis duas horas e meia de 2012. Dirão os mais cínicos que 2012 é um filme feito para quem não sabe quem é Charlton Heston e que, provavelmente, confunde “DeMille” com o nome de um programa para o seu telemóvel de quinta geração... Tanto pior para eles, digo eu. Mas não é por menosprezo geracional. É apenas porque filmes como 2012, mesmo com todos os talentos técnicos e artísticos que convocam, estão a reduzir o conceito de espectáculo a uma imitação banal dos mais banais videojogos. Uma imagem do deserto filmado por David Lean, em Lawrence da Arábia (1962), tem mais cinema e mais vibração humana que as intermináveis explosões de 2012. Desculpe, você disse David Lean?